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Banda Larga Cordel e a Cultura Livre

Gilberto Gil é um ícone da cultura popular brasileira. Tropicalista, ele, em parceria com Caetano Veloso, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé, Torquato Neto, Hélio Oiticica e muitos outros, resolveram interiorizar o conceito modernista brasileiro da antropofagia e questionar a sociedade, a política e a própria estética vigente através da arte.
Por conta de sua formação “antropofágica”, acredito, Gilberto Gil promove fusões rítmicas e conceituais tão inusitadas quanto belas. Vide as verdadeiras “viagens” do tributo ao Bob Marley, Kaya n’Gan Daya, onde Gil misturou sanfona e uma percussão bem brasileira aos hinos do grande reggaeiro.

Quando assumiu o cargo de Ministro da Cultura, Gil passou a ter um maior contato com as políticas voltadas à informática, notadamente as questões sobre inclusão digital e direitos autorais na web.

O resultado é que Gil passou a ser um dos principais porta-vozes da Cultura Livre no país, em uma roupagem e-tropicalista. Nas várias conferencias que participou, sempre defendeu a liberação de conteúdo digital, direito ao remix em obras, e a bricolagem multimidiática da Internet.


Ficou então um tanto fora de contexto seu novo álbum Banda Larga Cordel, só com material inédito desde 1997, ser publicado seguindo os mesmos moldes dos cd’s convencionais, não subvertendo de qualquer maneira a questão do direito autoral e da liberdade de re-utilização.

A primeira condição da Cultura Livre é que todo mundo tem a liberdade de escolher sob quais condições publica sua produção cultural. Então, criticar alguém por não “liberar sua música” é algo um tanto sem sentido. Porém, creio que no caso de Gil, alguns questionamentos são interessantes de serem feitos.

É dito que, quando conheceu o Creative Commons, Gil tentou liberar toda sua obra em uma licença livre, mas não conseguiu por que a gravadora Warner detém a maior parte dos direitos sobre elas.

Será que a não liberação de Banda Larga Cordel se deve a algum contrato a Warner? Bem, talvez. O Estadao.com.br relata que o ministro participou de uma videoconferência no dia 14 de maio, onde revelou que esse é o último disco do atual contrato com a gravadora.

Porém, logo em seguida, comenta da possibilidade de renovar o contrato: “A Warner não pode mais ser chamada de gravadora, é um espaço múltiplo” – e que o projeto seria um “recanto para recombinações criativas”. Ou seja, aparentemente a parceria com a Warner deve durar mais.

Será que, algum dia, teremos a possibilidade de aplicar o ideário da antropofagia cultural às obras de seu maior entusiasta tupiniquim?

Para quem gosta dos tropicalistas, a Trama, atual gravadora que hospeda Tom Zé, lançou um projeto que disponibiliza o último cd do baiano de Irará, Danç-êh -sá, ao vivo, com encarte e vídeos no site Álbum Virtual, por tempo limitado.



Não é uma adesão à Cultura Livre, mas já é ao menos uma tentativa de um novo modelo de negócios para a música.

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