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Por que abandonamos os blogs?

Interface de escrita do Twitter

Estamos nesses dias assistindo o Elon Musk destruir o Twitter. Se espera que nessa dinâmica, ao longo do tempo, a rede social vá perdendo usuários e relevância – isso se não explodir de uma vez, pois seu novo dono fala até em falência.

Não é a primeira vez que uma rede social vai minguando e morrendo. Já vimos essa história com o orkut, Google+, FriendFeed, e muitos outros, inclusive no mundo das redes livres: status.net/identi.ca, Diaspora, LiberTree…

E a cada encerramento ou descontinuidade das redes sociais, nos pegamos com a dificuldade de resgatar o conteúdo que produzimos para aquele espaço e a falta de onde disponibilizá-los novamente, ou mesmo de não os termos mais. Quanto conteúdo perdemos, por exemplo, com o fim do orkut?

Em paralelo e muito antes do surgimento das redes sociais, plataformas de publicação de conteúdo diretamente na web já estavam disponíveis e eram bastante utilizadas. A mais conhecida são os blogs, que estão conosco desde o fim dos anos 90. São versáteis, permitem uma ampla gama de configurações de temas, módulos, existem diversos tipos em diferentes plataformas e autores com conhecimento técnico podem mesmo hospedar os seus próprios, permitem publicação de textos, imagens, vídeos, estão publicamente acessíveis na web, em feeds, não requerem que seus usuários criem contas em serviços para terem acesso…

Com tantas vantagens, por que abandonamos os blogs pelas redes sociais?

Tenho minhas hipóteses, e entendo que são diferentes componentes que contribuem para a questão.

Das mais simples, em termos de interface, escrever em blog é muito mais dispendioso que em redes sociais. Nos blogs você tem uma interface específica para escrever conteúdo, cheia de opções de fontes, parágrafos, botões de negrito, itálico, upload de imagens… um editor de texto completo. Nas redes sociais você tem apenas um campo de texto, com pouquíssimas ou mesmo nenhuma opção de formatação.

Outro aspecto também no campo da interface é que blogs requerem que se pense na apresentação da página inteira: que cor de background terá a página, quais módulos utilizará, qual fonte, terá uma página para apresentação do autor ou não? Nas redes sociais há poucos elementos de customização, logo há pouca preocupação quando comparado com um blog em torná-lo “atrativo”.

Um último aspecto, e esse para mim tem mais impacto que os anteriores, é que a montagem da interface das redes sociais coloca produção e consumo de conteúdo em uma mesma tela. Portanto, enquanto você lê o que os outros estão escrevendo, você vai lá e escreve também. Dá sua contribuição pra roda sem fim do feed social e fica no aguardo do próximo tema.

Se utilizando dessa arquitetura somada ao processamento dos dados sobre nossos interesses e gostos, as redes sociais montaram uma máquina de sugar atenção. Sempre tem algum tema que te impele a dar uma opinião sobre; ou algo que te deixa indignado para que você escreva também.

Tudo muito impulsivo, imediatista e efêmero. Passa o tema, tudo se esvai e ficamos em guarda para o próximo.

Dessa forma, os blogs não são apenas uma mídia diferente quando comparada com as redes sociais – a própria dinâmica de produção e consumo de conteúdo é em si diferente.

Enquanto assistimos a agonia do Twitter, muitos estão migrando para redes sociais livres e federadas, em especial o Mastodon. É um movimento interessante que não deixa de ser uma tentativa de esvaziar as big techs, que tem seu poder porque prendem seus usuários em seus “jardins murados“.

Mas talvez não seria a hora de uma nova tentativa para os blogs? Particularmente acho difícil, o mundo mudou e as coisas se encaminharam para essa nova dinâmica. Mas os blogs não deixam de ser uma possibilidade, uma espécie de refúgio, para aqueles que gostariam de, se não encerrar de vez, ao menos diminuir esse ritmo imediatista e consumista da atenção que se tornou as redes sociais.

3 comentários em “Por que abandonamos os blogs?”

  1. Talvez fazer “sucesso” nas redes sociais também tenha contribuído para o abandono dos blogs. A competição explícita pelo número de seguidores, que gerou frenesi e bastante mídia nos meados de 2010, escanteou blogueiros (ou fez com que eles entrassem no jogo, depois se tornando Youtubers, depois “influenciadores digitais”, etc.). Antes as métricas eram usadas para vender patrocínio pros blogs, agora são usadas para vender “publis” para canais de redes sociais. Antes quem escrevia em plataformas mais abertas porque queria/podia/tinha tempo hoje escreve em plataformas fechadas de big techs porque é o que atrai maior público e faz cair uns bons pingados de verba de anunciantes (propaganda e “publis”). Talvez…

    Uma coisa interessante é que atualmente muitas empresas ainda usam o nome “blog” para parecerem descoladas, cool em determinado pedaço do site corporativo, com textos majoritariamente feitos por assessoria de imprensa, mesmo quando são assinados.

    1. Pois é, como se diz “follow the money”. O dinheiro, convertido a partir das métricas de seguidores/números de curtidas/números de compartilhamentos/etc, o famoso “engajamento”, no fundo é também o responsável por isso.

      No mundo dos blogs e da web aberta em geral você escreve e o texto fica lá disponível, aguardando os leitores chegarem. Só instalando trakers pra ter alguma ideia de quantas pessoas estão chegando ao seu conteúdo.

      Nas redes sociais é possível contabilizar outras métricas pra saber do impacto e converter em ~publi~. Enfim, é um mundo q nos custa muito, mas q dificilmente irá desaparecer.

  2. Olá Filipe,

    Cheguei no seu blog através de um comentário que você deixou no Orbita, no MdU, a respeito de tema simples para o WP. Você comentou de usar o Neve modificado, e gostei bastante. Tenho meu site também, porém, preciso modificar o tema para um text-only, e você conseguiu um ótimo trabalho com o seu modificado.

    Tem tantos anos que não me envolvo com códigos no WP que não sei se conseguiria chegar neste seu resultado. Se fosse possível, poderia me explicar as modificações ou mesmo me fornecer os arquivos do tema? (obviamente, se for o gratuito e você não se importar, claro).

    Tentei achar seu e-mail para contato, mas não consegui. O meu você conseguirá ver, caso precise.

    Obrigado desde já.

    Abraços,

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