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Os documentos digitais (no plural) do Brasil

Já faz algum tempo o Brasil está passando por um processo de digitalização dos documentos oficiais utilizados por pessoas físicas. Entretanto, o que antes se anunciava como uma possível convergência dos mais diferentes documentos para um documento único, que serviria para tudo, passou a acontecer a digitalização de cada documento específico através do desenvolvimento de aplicativos para plataformas de celular.

O primeiro desses aplicativos foi o e-Saúde, hoje rebatizado como Meu digiSUS. Nele é possível buscar nas proximidades pontos de atendimento, clínicas especializadas, maternidades, unidades da Farmácia Popular e outros, receber informações sobre campanhas de vacinação, doação de sangue e transplante de órgãos, agendar atendimentos, ver histórico de retirada de medicamentos, e mais. E além delas, o aplicativo também gera o cartão digital do SUS do usuário.

Em seguida, o primeiro documento de identificação formal que ganhou uma versão digital foi o Título de Eleitor, nomeado e-Título. Com ele é possível saber e se identificar em sua seção e zona eleitoral, além de emitir certidões de quitação com a justiça eleitoral e certidão criminal. O projeto desse documento fez o TSE mobilizar o país em grandes campanhas de renovação e cadastramento biométrico da digital dos cidadãos.

Pouco tempo depois a carteira de motorista recebeu uma versão digital desenvolvida pelo SERPRO e chamada Carteira Digital de Trânsito, que substitui a carteira convencional para todos os seus usos.

E não pára por aí: caso você seja um funcionário público federal há o aplicativo SIGEPE, que dá informações sobre vínculo empregatício, mensagens do governo, informações financeiras, férias, e também traz a carteira funcional digital do usuário.

Para aqueles que são trabalhadores de carteira assinada, há a Carteira de Trabalho Digital.

Já caso você seja estudante o governo prometeu lançar, em represália às entidades estudantis nacionais, a carteira estudantil digital chamada ID Estudantil, que servirá como documento de identificação digital de estudante – entretanto, há dúvidas se o projeto vingará.

E depois de todos esses documentos específicos, ainda há o resiliente projeto da Identidade Unificada que também pretende unir outros documentos – agora chamado de Documento Nacional de Identificação, que será, vejam, digital.

Os documentos digitais são muito práticos no dia a dia. Nunca fiz uso de algo muito sério com eles, mas já fui a shows, teatros, cinemas, votei e embarquei em avião utilizando-os. A opção de tê-los em forma de aplicativo de celular barateia o custo de implantação, mas por outro lado restringe o exercício da nossa cidadania para aqueles que tem acesso a esses dispositivos e também às suas plataformas – quem não tem celular ou utiliza algum sistema operacional diferente dos desenvolvidos pela Apple e Google ficam sem acesso aos documentos digitais.

Dado o panorama de documentos tão diferentes, cada um necessitando de um aplicativo específico para funcionar, só me leva a conclusão que além das versões digitais dos nossos documentos também criamos uma versão digital para nossa burocracia.

Mas, de qualquer forma, esse é um problema que a digitalização nunca iria resolver. Afinal, o digital é apenas um espelho do real.

2 comentários em “Os documentos digitais (no plural) do Brasil”

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