Fake News já se tornaram o tipo de problema que teremos que enfrentar de alguma maneira o quanto antes, ou veremos democracias sendo destruídas uma a uma. Se o caso Trump nos chamava atenção mas ainda parecia distante, as eleições brasileiras de 2018 vieram pra mostrar que o tiozão gente boa pode se converter no mais odioso dos seres após ser alimentado com uma série de notícias que, por mais bizarras que sejam, toca nele a ponto de mobilizá-lo.
Certamente acabar com elas será dos maiores desafios, e desconfio que mais social do que técnico. Mas talvez, ao menos para mitigar, a maneira como a arquitetura de compartilhamento do Telegram é implementada poderia ser um primeiro passo para dissuadir um tanto as correntes de mentiras que povoam o WhatsApp.
No Whats, um encaminhamento de mensagem modifica o autor. Assim, uma fake news escrita por um completo desconhecido num grupo subterrâneo da rede chega ao grupo da sua família com o nome da sua tia porque foi ela quem compartilhou. O laço de afeto e confiança pesa na hora que algum membro do grupo vai ler o texto, afinal foi a tia que enviou.
O apagamento do autor original reduz consideravelmente o fator dúvida de alguém que lê uma mensagem caindo numa tela de celular. Afinal, quem é ele? Que tipo de interesse o mobiliza? São questões muito difíceis de serem formuladas para um “autor” conhecido que é próximo a você.
Exemplo de mensagem encaminhada no WhatsApp
Enquanto estava na fila de votação, tive uma pequena discussão com uma moça que votaria no Bolsonaro após ela falar em voz alta na fila: “mermã, vê só essa minha amiga mora lá em Goiânia e olha o que ela colocou no grupo! Tão digitando o número do candidato lá e não está aparecendo! Absurdo!”. Para ela, a mensagem era mesmo da amiga dela, e não mais uma mentira produzida de forma irresponsável para se propagar e alimentar as bases do candidato – e em consequência, derrubar um pouco mais a democracia.
No Telegram as mensagens encaminhadas mantém o autor original, colocando-o em destaque na parte superior do texto. Não apenas isso, mas a mensagem também guarda um link para o perfil que o escreveu.
Exemplo de mensagem encaminhada no Telegram
Se o compartilhamento de mensagens no WhatsApp fosse implementado dessa forma, para além de criar um pouco mais de dúvida na cabeça de quem lê um texto encaminhado para algum grupo, seria possível também identificar quem escreveu aquela mensagem, responsabilizando o autor por propagar mentiras e outras coisas tão ou mais criminosas quanto (pedofilia, para citar uma).
Portanto, talvez um primeiro passo nessa guerra contra as fake news, que no Brasil tem como veículo principal o WhatsApp, seria exigir a implementação dessa arquitetura de compartilhamento no software. Não podemos impedir que qualquer um escreva o que queira, mas ao menos identificá-lo e responsabilizá-lo já seria alguma coisa – como acontece no mundo físico, aliás.
(Meu canal no Telegram: @monolipe)