Faltando poucos dias para o 1º turno das eleições, aproveito o momento para declarar meu voto em Ciro Gomes e convido amigos e amigas a ponderarem e também votarem no candidato.
Em um conceito bastante generoso de partidos políticos, tratam-se de organizações estruturadas em torno de uma ideia de ordenamento social e que tentam, através do jogo democrático, disputar o poder para implementar essa visão. Portanto, além da estruturação ideológica em si, um partido também está necessariamente voltado para a peleja eleitoral de forma a conquistar cargos ou apoios para implantar as políticas que acreditam serem as “mais corretas” dada sua ideologia.
Dos partidos políticos brasileiros, certamente o PT é dos mais importantes. Com uma história de fundação sem igual e duas passagens memoráveis pela presidência que modificaram de verdade o país para melhor, há diferentes justificativas para se votar novamente no partido. Em que pese tudo isso, entretanto, nos últimos anos o PT afundou em problemas dos mais diversos tipos e levou o Brasil junto.
Dos vários amigos petistas que tenho e que ecoam a tese de que Lula foi tirado da corrida presidencial por uma orquestração que envolveu a direita, a mídia e a justiça (“foi golpe” – eu também acho que foi), acredito que nenhum deles há de duvidar que o partido realmente se refestelou na corrupção. Há vários dirigentes presos e muita história ainda a ser explicada.
O que poderia ter motivado a tão falada “autocrítica” do partido, acabou não servindo para nada. O atual governo é tão ruim, e mostrou uma face da direita que maltrata tanto o trabalhador mais pobre, que o PT acaba servindo de porto para toda população revoltada com as políticas do governo Temer e/ou que tem lembranças dos bons tempos de Lula. Com a impossibilidade do ex-presidente disputar a eleição, coube a Fernando Haddad fazê-lo.
O problema é que a estratégia do PT reuniu tantas questões discrepantes, além de sentimentos tão complicados, que pessoalmente fico muito desconfortável em nesse momento votar no partido. Aparentemente, todos os problemas nos quais o partido se envolveu não mereceram qualquer reflexão sobre as condutas tomadas. Haddad, que é um bom quadro e no qual muitos de nós que acompanhamos sua gestão enquanto prefeito de São Paulo nutrimos um “meu futuro presidente!”, acabou rebaixando sua carreira para um tipo de proxy (máscara) do Lula. Haddad será o presidente ou será Lula? Os votos são de Haddad ou Lula? Confesso certa decepção pois sempre vi Haddad como o futuro e a renovação do partido e da esquerda brasileira como um todo, mas o papel que ele tomou para si nessa eleição parece tê-lo diminuído. Para não me alongar demais, destaco mais dois pontos que me fazem refletir sempre que penso na candidatura petista: 1) o PT não se sente minimamente responsável pela atual crise econômica que atravessa o país? Dilma sofreu com pautas bomba, mas algumas decisões econômicas desastrosas somadas ao boicote do próprio partido também estão na conta de uma reflexão ainda não realizada; 2) como resolver esse antipetismo visceral que remói boa parte da sociedade brasileira?
Tudo isso, que são questões graves e que merecem respostas claras, poderiam ser até forçosamente colocadas de lado em uma situação onde a esquerda se visse sem alternativa diante de uma direita forte e cruel. Mas não é isso o que acontece – há boas alternativas na centro-esquerda e na esquerda na disputa que assistimos hoje.
Dentre elas, com certeza, Ciro Gomes é a melhor. Ciro mostra preparo, inteligência. Já foi deputado, prefeito, governador e ministro. É nítido seu conhecimento sobre os temas que fala, sua postura firme e vontade de fazer aquilo que acredita. Tendo disputado diversas eleições presidenciais, em todas mostrou um projeto de centro-esquerda comprometido com a redução das desigualdades sociais e com o avanço tecnológico e industrial do país.
O mais interessante é que boa parte das propostas já foram implementadas em menor escala por Ciro e seu grupo político no seu reduto eleitoral, o Ceará. O estado melhorou significativamente seus níveis de ensino e emprego; obras estruturantes estão por todos os lados; a população tem um acesso melhor que a média nacional à saúde. Nos cargos executivos em que esteve, Ciro foi bastante responsável com a economia – uma crítica que no geral os liberais fazem para a esquerda.
Ciro seria capaz de construir um governo de “concertação nacional”, reunindo partidos e movimentos sociais dos diversos espectros políticos passando ao largo do antipetismo hidrófobo, além de evitar uma situação de um possível governo petista se vendo às voltas com os problemas internos que o partido terá que se defrontar.
Muitas são as críticas dos simpatizantes petistas a Ciro apontando contradições da campanha, como a vice ser Kátia Abreu ou a proximidade com certos setores mais alinhados com a direita. Acho curioso como as contradições do próprio PT desaparecem durante essas análises, fazendo do partido o único com o monopólio de recorrer a esses tipos de acordo. O fato de Kátia Abreu ter sido ministra de Dilma e do arco de alianças do antigo governo ser composto por vários partidos do “centrão” não eram problema suficiente para a militância repudiar o partido.
Nada leva a crer que Ciro não fará um governo de centro-esquerda com uma pegada social democrata e desenvolvimentista em bons trilhos para tirar o país da crise, voltar com empregos para a população, derrubar a verdadeira selvageria que as reformas de Temer trouxeram para os trabalhadores, além de afastar o fascismo que o antipetismo está gestando na sociedade brasileira.
Ele tem o perfil correto de um candidato de esquerda com foco exclusivo no Brasil. Meu voto é dele.
É da natureza dos partidos disputar o poder, da maneira que for. Articulistas e comentaristas políticos em geral parecem ser muito ingênuos quando falam sobre o “PT fazer autocrítica”, porque isso não é o que um partido faz. A única hipótese disso ocorrer é quando um partido perde as eleições – nesse caso ele se propõe a fazer uma análise do que o levou a derrota e, nesse ponto, pode surgir uma autocrítica. O PT não vai desistir do poder por vontade própria, mesmo tendo uma excelente candidatura alternativa de esquerda disponível.
Cabe a nós entendermos que o partido não monopoliza a esquerda, que os problemas do partido não são os problemas da esquerda, e que há sim, alternativas de verdade e viáveis para trazer a esquerda de volta ao poder em um projeto político voltado ao emprego e redução das desigualdades. Essa alternativa é Ciro 12.
Sigo em frente!
Ciro em frente!
Ciro enfrente!
Fantástico
Você é corajoso, comparsa. Porque eu andei fazendo essas críticas ao PT e estava sendo patrulhado e coagido.
Eu descobri a face totalitarista do PT nessa eleição.
Sempre votei no PT, mas só porque esse ano decidi declarar apoio a outro candidato, começaram a me perseguir. Eles não aceitam oposição por se acharem os donos de tudo, donos da esquerda, donos da verdade.
Muito bom o seu texto.
Obrigado camarada, aprecio muito sua opinião.
Rapaz, é uma merda essa postura de alguns petistas. Eleições deixam todo mundo com posturas muito acaloradas. Do meu lado, ainda bem, não sofri perseguição e sempre fui muito sincero com os amigos mais petistas. No geral eles concordam com os pontos, apesar de não expressarem.
Mas é bem isso. O partido se acha o dono da esquerda – e tem camaradas que não conseguem perceber esse viés do partido.
Bom texto, Felipão! Sua análise sobre o preciosismo do PT frente a esquerda é certeira! Creio que a sigla há muito tempo não referencia mais este campo político. Portanto, não pode requerer para si a primazia da “imagem e semelhança” da esquerda. A candidatura de Haddad é um último recurso nessa conjuntura adversa para o PT. A despeito disso, a militância do partido é forte, e agrega-se a ela uma considerável parcela do eleitorado mais pobre. Um eventual retorno do PT a presidência não significará o rompimento com a velha política. Antes, buscarão uma alternativa para mantê-lá.