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A greve pelo ponto biométrico

Poucos dias atrás, Belém saiu de uma greve dos rodoviários que colocou a cidade de joelhos. Por 5 dias Belém ficou sem qualquer ônibus, com o sindicato descumprindo a determinação ditada pela justiça do trabalho de 80% da frota na rua. Encarando pesadas multas por conta disso mas ainda assim firmes, essa situação demonstrou como a categoria é forte e estava unida em torno de suas pautas.

Antes de prosseguir, um adendo: como usuário de transporte coletivo, todo apoio ao movimento. Os ônibus em Belém são terríveis, sem qualquer manutenção, barulhentos e sem segurança. Em uma cidade tão quente e com uma passagem tão cara, já era hora de termos ar-condicionado nos coletivos. Infelizmente, não ajuda termos um sindicato patronal que só pensa em maximizar os lucros investindo o mínimo possível, a uma elite tacanha que sonha com Miami, e uma prefeitura que não enxerga que uma regulação mais criteriosa sobre o transporte poderia atrair atuais usuários de carro, reduzindo o fluxo no trânsito, a poluição do ar e sonora.

A pauta dos grevistas incluía a melhoria do transporte público mas também tinha as demandas típicas dos movimentos sindicais: aumento salarial, do ticket alimentação, redução da carga horária de trabalho. Mas, dentre as pautas, uma chamou atenção: a greve pedia a implantação do ponto biométrico.

Em Belém, trabalhadores do setor viário registram suas presenças de forma manual em planilhas que ficam nos pontos finais e garagens. Nas reivindicações os rodoviários apontaram que esse sistema é muito suscetível a fraudes, em especial para o registro das horas extras. Finalizada a greve, os trabalhadores receberem a promessa de que as máquinas estariam disponíveis em todos os pontos finais no prazo de 10 meses.

Chama atenção essa pauta. O ponto biométrico é, em geral, relacionado ao controle abusivo de patrões sobre o horário de serviço dos trabalhadores. Sabe-se de casos onde esses relógios tem tolerância de poucos minutos, fazendo com que empregados que chegam muito cedo tenham que ficar de prontidão esperando a janela de registro iniciar, ou, por outro lado, funcionários que se atrasam alguns minutos precisam passar pelo constrangimento de explicar o motivo do atraso para o supervisor.

O uso do ponto biométrico pode servir a diferentes fins, com uns e outros ganhando e perdendo a depender da situação. Lembro do caso onde uma funcionária do SAMU foi pega com 6 dedos de silicone, para registrar a presença de médicos e enfermeiros que deveriam estar de plantão mas não se encontravam no local. Nesse caso, claramente a tecnologia tinha o objetivo de garantir o atendimento de saúde para as pessoas que necessitavam. Penso que poucos de nós achariam exagerado esse tipo de controle.

Nesse aspecto, ver o ponto biométrico como ponto de pauta de movimento grevista chama atenção e leva a reflexões de que, ao final, nem sempre há uma interpretação única sobre os impactos dos usos que se fazem das tecnologias. É sempre necessário avaliar o contexto em que as mesmas são aplicadas.

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