Esse post tem como finalidade fazer uma análise da fórmula utilizada para a consulta da direção do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN) da UFPA. O objetivo é mostrar como uma mesma fórmula pode levar a diferentes situações a depender do cenário onde ela é aplicada.
A seguir utilizaremos algumas siglas cuja legenda é a seguinte:
É costume nas eleições do ICEN se utilizar da chamada “fórmula paritária”, muito utilizada em universidades Brasil afora e, no contexto da UFPA, também na consulta para a reitoria. A fórmula é a seguinte:
P = 1/3 * [(VD/UD) + (VT/UT) + (VA/UA)]
Nessa fórmula, cada segmento da universidade (docentes, técnicos e alunos) tem o mesmo peso na votação. A fórmula acaba por dividir, dos 100% de votos disputáveis, 33,333…% para cada segmento. Como o peso de cada segmento como um todo é o mesmo, esse valor acaba sendo diluído pela quantidade de membros dos segmentos a fim de calcular qual o peso do voto único de cada eleitor na consulta.
Essa é uma boa fórmula na medida em que a quantidade dos membros de cada seguimento for também relativamente equilibrado. Utilizando por exemplo os números dos segmentos da UFPA: segundo a apresentação UFPA 2017 em Números – Ano Base 2016, a instituição conta atualmente com 40.310 alunos matriculados na graduação e 9.125 alunos na pós-graduação, totalizando 49.435 alunos. O número de professores é 2.631 (magistério superior + educação básica/profissional) e o de técnicos 2.541.
Nesse cenário temos que o voto de um professor equivale aos votos de 18,79 estudantes. Essa situação indica o seguinte: apesar de matematicamente cada segmento brigar por uma fatia de 33,333…% do total de votos, no final serão necessários 18,79 estudantes para igualar o voto de um único professor. Fazendo uma análise em termos políticos, é bem mais fácil convencer 1 pessoa a votar em algo do que 18. Infelizmente é muito complicado equilibrar o voto dos estudantes com os dos demais segmentos no contexto universitário, afinal o número de estudantes sempre será muito maior que o de docentes e técnicos.
Ainda nesse cenário, o voto de um técnico equivale aos votos de 1,03 professores. Isso reflete o número relativamente equilibrado de técnicos e docentes da instituição. Como não existe 0,03 voto, esse valor só representará algo (ou seja, expressará 1 voto completo) quando a diferença de votos entre técnicos e docentes estiver na proporção de 34 votos de diferença (1,03 * 34 = 35,02), o que é uma proporção razoável.
Ou seja, a fórmula paritária permite uma disputa equilibrada de votos nos segmentos de professores e técnicos pois o cenário da UFPA como um todo é equilibrado para esses dois grupos. Isso é completamente diferente para o caso do ICEN.
Segundo dados que circularam em reuniões da congregação do instituto, o ICEN tem hoje 160 professores e 50 técnicos, fazendo com que o número daqueles seja mais que 3 vezes maior que o destes.
Por conta desse desequilíbrio, em termos de votação, o voto de 1 técnico equivale ao voto de 3,2 professores. Novamente, por mais que cada grupo dispute uma fatia de 33,333…% dos votos totais, é mais simples convencer 1 pessoa a votar em algo do que 3,2. E temos que lembrar que esses números escalam: igualar o voto de 10 técnicos necessitará de 32 professores.
Essa situação tem diversos efeitos negativos, e não apenas para os professores que tem menos força decisória sobre a consulta. Os técnicos, por terem mais peso nos votos, estão potencialmente sujeitos a todo tipo de pressão.
Diante dessa situação, a Faculdade de Computação propôs uma nova fórmula para a consulta do ICEN, que é a seguinte:
P = 2/3 * [(VD + VT) / (UD + UT)] + 1/3 * (VA/UA)
O que essa fórmula faz é unir as categorias docentes + técnicos (chamando essa união de “servidores”), e atribui a ela o peso de 2/3. Nesse cenário, o voto do docente e do técnico não serão diferentes, tendo ambos o mesmo peso 1. Será voto universal específico para esses dois segmentos, disputando 66,666…% dos votos totais.
Dessa forma, resolvemos o desequilíbrio que existe entre os 2 segmentos para o ICEN e eliminamos os efeitos colaterais negativos também para ambos os grupos que a fórmula paritária gera nesse cenário.
No momento as duas fórmulas estão em votação na congregação do instituto e logo saberemos qual delas será a utilizada no certame.