Demorei demais para escrever a última parte da série de três sobre quadrinhos nacionais. Sem mais delongas, vamos lá. O tema é fanzines e experimentações em Teresina 2004 – 2008.
Por volta de 2004 à 2008 houveram algumas experimentações narrativas que chamaram a atenção dos fãs teresinenses da arte sequencial, das quais queria destacar três.
Besouro foi um zine produzido por estudantes do curso de artes da UFPI. O nome aludia à escultura metálica de um besouro que fica numa das praças da faculdade. A revista teve um bom par de edições apresentando o talento daqueles estudantes em histórias que variavam bastante de tema e estilo. Achava muito massa ver o trabalho do pessoal e depois sair comentando com eles “pô aquele desenho que você fez na edição 03 ficou massa doido ó”.
Cabritodélico. Nordeste e psicodelia num material que é mais apropriado chamar de experimento do que quadrinho, até porque nem sempre tinha arte sequencial lá. E experimento não só gráfico, mas em vários outros sentidos. Por exemplo, distribuição: você poderia estar num show de rock, sentado numa praça, esperando começar o filme na Casa da Cultura, ou mesmo na fila do RU – algum amigo ou conhecido chegava e dizia “ei doido, viu que saiu o Cabritodélico novo?”, e sacava da mochila algumas das cópias e te entregava uma. “Onde você conseguiu?”, “Peguei com um chegado”, era a resposta mais comum. Poucos sabiam quem eram os autores, pois eles utilizavam codinomes. E depois descobrimos que era comum os autores, sem dar deixa, perguntarem para os leitores o que eles achavam daquela edição. No zine haviam muitas poesias, ilustrações com muito uso de xilogravuras, colagens, que causavam impacto instantâneo na leitura. Uma pena que, com a fatalidade que se abateu sobre o principal autor, o zine tenha perdido muito da força original. Continuou por mais um tempo, mas sumiu em seguida.
O terceiro, que não tem desenho, é também um auto-jabá: A Fada foi a única revista que “escrevi”. Baseada num poema dedicado a uma hippie da PII (já fui desses – inclusive saudades), o Pedro Leo, bêbado de Sandman e Dalí, transformou o texto num épico onírico de 6 páginas. A arte do Leo deu outra dimensão ao texto, e realmente gosto muito daquele trabalho. Tiramos umas 30 cópias da revista e fizemos o “lançamento” em algum SALIPI da vida: fomos pra um dos corredores distribuir pros visitantes. A revista deve estar soterrada em algum HD antigo, prometo que assim que pegar coloco na internet pra quem quiser curiar.
Queria agradecer à Malú pelo convite de participar dessa homenagem aos quadrinhos nacionais. Nunca havia escrito sobre tema, mas taí, gostei do resultado. =)