Um dos ângulos da Estocolmo antiga, Gamla stan
Já fez um mês que deixei o Brasil pra passar uma curta temporada na capital da Suécia, Estocolmo, assumindo uma vaga de pesquisador visitante na Kungliga Tekniska högskolan – que você pode chamar em inglês de Royal Institute of Technology ou simplesmente usar a sigla KTH. Havia comentado sobre essa aventura antes aqui no blog através de um post em inglês que pretendia pegar algumas dicas sobre onde morar, custos de vida, essas coisas.
Vim parar aqui por conta do grupo de pesquisa PSMIX, que desenvolve estudos de aplicações de sistemas multiagentes como ferramenta para controle distribuído em sistemas de potência tipo smart grids – ou seja, o mesmo assunto que desenvolvo no meu doutorado. Tenho interesse em especial na plataforma de simulação que eles desenvolveram, que utiliza um conjunto de RaspberryPi conectados entre si.
Kungliga Tekniska högskolan (ou só KTH mesmo) e muita neve
No momento estou sentindo na pele o inverno nórdico, com temperaturas sempre baixas e neve por todo lado. Acho que o maior “calorzinho” que peguei na rua deve ter sido uns 3 °C, mas a média tem variado entre -1 °C e 2 °C. A mais baixa temperatura foi -9 °C, mas nesse dia fiz questão de não sair de casa.
Apesar dessas temperaturas, você só irá senti-las por aqui caso saia para a rua. As casas suecas são muito preparadas para o frio e mesmo o transporte público tem aquecedor. Tanto onde moro quanto no laboratório, a temperatura sempre está entre agradáveis 20 °C, 25 °C. Entretanto, para visitantes estrangeiros como eu, não sair de casa para dar uma volta por causa do frio não é uma opção.
Estocolmo é uma cidade muito bonita, repleta de parques, lagos e pontes dividindo espaço com prédios de arquitetura medieval, barroca ou contemporânea. Galerias de arte, museus, centros de compras, restaurantes dos mais diversos tipos, pontuam a cidade em seus diversos bairros. O transporte público é muito eficiente, com hora marcada para chegada de ônibus e metrô, e a partir deles é possível se deslocar pela cidade de forma muito simples.
Logicamente, a cidade também tem seus problemas. Um dos maiores certamente é o déficit habitacional – é dito que Estocolmo tem 2 milhões de residentes, mas há apenas 924 mil unidades habitacionais disponíveis. Alguém que tenha recentemente entrado em uma lista de espera para compra de imóveis pode demorar anos até ver a sua vez chegar. Isso eleva o preço das habitações, chegando a ser bastante comum o aluguel de um quarto em residência compartilhada com preços a partir de 5000 coroas suecas (pouco mais de 1600 reais).
No meu caso, como sou pesquisador visitante e não estudante, foi me oferecido um flat em um município 70 km distante de Estocolmo, Norrtälje. Essa cidade faz parte de algo como o estado de Estocolmo, e aqui tenho um apartamento num preço comparável ao de um quarto em residência compartilhada. Também há confortáveis ônibus fazendo o trajeto entre as cidades de 15 em 15 minutos – o problema é o tempo de deslocamento dessas viagens. Estou pensando se para os dois últimos meses do estágio me mudarei para Estocolmo ou não.
Outro ponto negativo é o custo de vida em Estocolmo. Comer é caro – em média 120 coroas suecas (40 reais) por refeição. Há restaurantes mais em conta que fazem promoções para alguns pratos na hora do almoço, que acabam ficando em torno de 65 coroas (20 reais). O ticket para uma viagem no transporte público custa 25 coroas (pouco mais de 8 reais), o que acaba te induzindo a comprar o cartão de transporte (taxa de 20 coroas ~ 7 reais e pouquinho) e carregá-lo com permissão para número ilimitado de viagens por uma semana (300 coroas ~ 100 reais) ou um mês (790 coroas ~ 255 reais).
Mas bem, apesar dos pontos ruins acima tem sido uma experiência bastante interessante. Morar num país tão diferente e conviver com pesquisadores de várias partes do mundo tem sido bastante enriquecedor, um desafio ininterrupto. Espero escrever mais sobre esse momento que estou passando aqui, minhas impressões e mais, compartilhando com os amigos esses tempos diferentes, gelados porém legais.
Vista do lugar onde moro – em um dia de muita neve
E fica meu agradecimento à FAPESP, agência de fomento à pesquisa do estado de São Paulo que está bancando essa fase dos meus estudos através de uma bolsa BEPE.