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Ubuntu: traidor do movimento ou de (ingênuas) expectativas?

Capa do Ubuntu 4.10 Warty Warthog – primeira versão da distro

Quem acompanha a comunidade software livre brasileira deve estar a par das recentes discussões sobre o pedido para não recomendação e não instalação do Ubuntu no FLISOL, Festival Latino-Americano de Instalação de Software Livre, evento em rede voltado para instalar distros GNU/Linux e outros softwares livres. As discussões começaram a partir de um abaixo-assinado lançado pelo Anahuac, continuaram na lista PSL-Brasil e FLISOL, e culminaram com a recomendação do coordenador brasileiro do evento, Thiago Paixão, para que os grupos brasileiros boicotem o Ubuntu – um eco um tanto tardio de um pedido que o Stallman fez em 2013.

Antes de partir para o texto em si cabe duas declarações para contextualizar os leitores sobre os posicionamentos do autor: 1) Não uso Ubuntu e nem tenho qualquer relação com a Canonical. Minha história com essa distro durou apenas 3 semanas no ano de 2006 – voltei pro Kurumin porque não gostei do Gnome (desculpem amigos Gnomos :)); 2) De fato o spyware que o Ubuntu instala por padrão nos computadores do usuário é algo sim muito nocivo, e apenas esse motivo justificaria o pedido de não recomendação do sistema em qualquer roda de ativistas de software livre.

Isso exposto me preocupa muito o andamento que as discussões tomaram, principalmente os argumentos que apontam o Ubuntu como uma distro que não é software livre. Esses argumentos no geral se embasam em duas premissas: os blobs binários e o fato da Canonical ter “virado as costas pra comunidade”, ou algo do gênero.

Sobre a questão dos blobs binários infelizmente isso é um problema que os desenvolvedores do kernel Linux e, por extensão, as principais distros, se defrontam. Muitos fabricantes de hardware só disponibilizam os drivers para Linux num formato binário, sem código-fonte. Os desenvolvedores do Linux tiveram que escolher: é melhor suportar o hardware com software privativo ou não suportar o hardware? Eles escolheram a primeira opção e isso acabou desembarcando nas distros em geral.

Portanto, blobs binários são entregues com todas as distros mais conhecidas. Não é exclusividade do Ubuntu: o Debian tem, o Fedora, OpenMandriva, Mageia, OpenSUSE, Chakra, Arch, e muitas outras. A FSF mantém uma página explicando isso, e por esse motivo recomenda apenas a instalação de distros que eliminaram esses blobs, como o Trisquel.

Mas aí a questão que os desenvolvedores do kernel se perguntaram continua, e para mim ela é bastante complexa: é melhor instalar os blobs e ter o hardware funcionando ou ficar sem poder utilizar esse hardware? Claro que é melhor hardware que funciona com driver livre, mas as vezes o usuário não tem acesso a esse tipo de dispositivo. Para mim é melhor ter um sistema operacional 90% livre do que entregar um pen drive com alguma distro recomendada pela FSF para um usuário com hardware não suportado e dizer “da próxima vez traga um computador que não precise de blobs pra funcionar corretamente”, como chegaram a propor.

Mas voltando ao tema, por que apenas o Ubuntu será condenado por uma prática comum às demais distros?

O segundo ponto seria a Canonical destratar a sua comunidade. Nos últimos anos temos visto um movimento forte da empresa em dar foco ao Ubuntu e implementar uma certa visão ao sistema operacional que o tornaria compatível com smartphones, televisões, tablets e outras mais. Nesse sentido vimos a Canonical tirando suporte (e por consequência demitindo funcionários) de diversos remixes do Ubuntu mantidos oficialmente por ela, como o Kubuntu, Xubuntu e Edubuntu; a criação de um ambiente desktop próprio, o Unity, após o pessoal do Gnome não ter se mostrado muito receptivo às modificações que a companhia gostaria de ver; a criação de um servidor gráfico próprio, o Mir, que foi anunciado com muitas críticas – equivocadas – ao servidor que demais comunidades e empresas estão desenvolvendo, o Wayland; entre outras.

Todas essas medidas deixaram insatisfeitos parte da comunidade Ubuntu, em especial o pessoal mais velho que viu a distro crescer desde o começo; entretanto, estas iniciativas parecem não ter afetado uma certa base de usuários mais jovem. De qualquer forma, o ponto aqui é que todas as medidas relacionadas a software que a Canonical tomou são software livre. O código está disponível, tanto do Unity quanto do Mir, e é até irônico que as principais licenças que utilizam seja a versão 3 da GPL e LGPL.

É importante que saibamos separar nossas expectativas, gostos e frustrações daquilo que se espera de um movimento. Infelizmente (e coloco um infelizmente sem ironia), Stallman nunca colocou que o software livre seria um movimento antiempresarial. Para ele, software livre é sobre respeito ao usuário, que este tenha os meios de entender o que está acontecendo na sua máquina, e que não seja controlado por ela. Não é sobre julgamentos morais se uma empresa baseada em software livre agiu certo ou errado quando tomou tal direcionamento, a despeito ou não de sua comunidade.

O Ubuntu sempre foi uma distro com uma empresa por trás – a Canonical. Não há porque se frustrar quando a empresa *dona* do projeto resolve dar direcionamento diferente do que os usuários desejavam. Empresas fazem isso. Parece que o pessoal levou a sério demais o slogan Linux for human beings. É muito comum vermos empresas adotarem a prática dos slogans bonitinhos, mas só ingenuidade para acreditar que uma empresa é realmente aquilo que a propaganda dela apresenta. É como pensar que o Pão de Açúcar realmente se importa com você quando pergunta “o que faz você feliz?”; ou que o McDonald’s é aquela tia distante que recebe uma visita surpresa sua e fala, maternal, “que bom que você veio”. Ou que para a Coca-Cola não importa que você tome mais e mais a água-com-gás-açúcar-e-toxinas deles, mas sim que você “abra a felicidade”.

Qual a solução para isso? Contribua com distros realmente comunitárias. Estive na mesa crossdistro no FISL15 como membro da comunidade Mageia e comentei sobre isso. Não critico quem contribui com distros gerenciadas por empresas, cada um faz o que quer, mas eu não faço isso. Por esse motivo, quando o Mageia nasceu como uma distro comunitária a partir do fork do Mandriva, pulei junto com o grupo (e também porque havia um certo ar de “fábrica ocupada” no Mageia que dava um charme adicional ao projeto e foi fundamental para eu decidir seguir com eles =)). Em distros comunitárias há transparência e regras de governança estabelecidas que permitem que quem de fato dita as regras da distro é sua comunidade, e não o gerente de projetos de uma empresa qualquer. Há várias distros assim, como o Debian, exemplo mais famoso. Só seguir em frente e trabalhar para um projeto que você realmente se reconheça nele.

Pensando o software livre em termos de projeto, temos que entender que software livre se relaciona ao código, não ao gerenciamento.

Sobre o Ubuntu, espero que a Canonical realmente cumpra a promessa de remover o spyware na próxima versão da distro, 15.04, que deve sair 2 dias antes do FLISOL (!!!). Para mim, quando isso acontecer, a distro voltará a ser como outra distro qualquer, com seu gerenciamento próprio, suas metodologias, comunidade e etc, mas acima de tudo escrevendo código utilizando licenças livres e lançando software que respeita seus usuários.

Sobre a comunidade de software livre, espero que possamos perceber que não há um problema específico do Ubuntu aqui, e que então sigamos em frente nos focando em alguma das outras intricadas questões que a sociedade nos coloca dia após dia.

Filipe Saraiva é desenvolvedor na comunidade KDE e empacotador na comunidade Mageia

 

25 comentários em “Ubuntu: traidor do movimento ou de (ingênuas) expectativas?”

  1. Não sou autoridade no assunto, mas a unica distribuição livre de blobs de verdade,ao menos que tenho conhecimento,é da vertente BSD, o OpenBSD. Eles realmente não aceitam nenhum tipo de binario na arvore. (referencia que tive ouvindo o Opencast, ex-ubunteiro)
    Fora esse, talvez somente as distros indicadas no GNU.org.

    Como é muito dificil para um mortal usar uma das duas opções (até consegui fazer o OpenBSD rodar com XFCE no virtualbox, mas parei por ai), eu vou na que julgo mais adequado as minhas necessidades, no caso o OpenSuse. Estou bem acostumado com ela, com o Zypper e Yast.

    Bom texto, parabéns pela analise do assunto.

  2. Bom texto, Filipe! Em relação aos blobs, vejo várias atitudes possíveis para tentar resolver o problema, por exemplo, fazer uma campanha para os fabricantes abrirem o código, um crowdfunding pra alguém fazer engenharia reversa, divulgar hardwares com drivers livres… Infelizmente, uma parte da comunidade acha que a solução é jogar o problema na cara do usuário e deixar ele sem suporte a parte do hardware.

    O principal motivo para eu não recomendar ubuntu para alguém é que eu não gosto do Unity! :p

    1. Valeu Wille! Concordo com você, e diria mais, essa “estratégia” de deixar o usuário sem suporte não é postura de um pretenso movimento social, é sim algo mais relacionado com clubinho de entusiastas ou coisas do gênero.

      Existem algumas boas iniciativas de documentação de hardwares com suporte, como o h-node (https://h-node.org/). É muito melhor auxiliarmos o usuário, divulgar mais e contribuir com esse projeto, além de seguir o que o amigo comentou, do que deixar o usuário sem poder utilizar seu hardware.

      Sobre o Unity, também detesto aquilo lá! =D

      Grande abraço!

  3. Excelente texto Filipe!

    Me fez enxergar alguns aspectos, alguns ângulos que não percebi antes… enfim, tu é fera suficiente de me fazer mudar de opinião em alguns pontos(hehe), principalmente no que Stallman “nunca colocou que o software livre seria um movimento antiempresarial”.

    Quanto ao código, se realmente removerem o “spyware” será ótimo. Isso foi o “fim da picada”.

    Eu, passei da fase “ubuntu” da vida. Até recomendo aos que iniciam no mundo do SL, que podem até iniciar pelo “Linux para seres humanos”, mas que não demorem muito… ele costuma nos deixar preguiçosos! hehe

    😉

    1. Valeu Lucas! Cara no meu ponto de vista eu expliquei apenas o óbvio sobre software livre. Existem muitos softwares que são livres, o código é lançado e tal, mas o desenvolvimento dele é pouco transparente. Isso faz dele menos livre? Eu não gosto de projetos assim, mas na perspectiva do que é software livre, eles são sim.

      Para mim o diagnóstico é que esse é o grande problema hoje do Ubuntu. A antiga comunidade ficou desgostosa quando a Canonical abandonou o Gnome, Kubuntu, etc, passou a usar o Unity, e as outras coisas que escrevi. Mas isso não faz da distro menos ou mais livre, e é isso que a galera bate o pé.

      Mas bem, que eles tirem aquele spyware ali porque é indefensável aquilo lá! =D

    2. Lucas, eu tenho ficado nesse dilema aí. Não gosto da política empresarial da canonical, principalmente depois desse spyware. Mas reconheço que o software fornecido por eles é uma ótima porta de entrada para pessoas não iniciadas.

      A distro Trisquel GNU/Linux, que é baseada nas versões LTS do Ubuntu, e segue as diretrizes da FSF, me parece uma boa alternativa para iniciantes. Quando se precisa de algum blob proprietário (eu precisei) se utiliza um ppa que fica resolvido. Acho que é mais pedagógico sobre a importância de ser Software Livre, sabe? =)

      1. Caras eu fico me perguntando será se essa história do Ubuntu ser bom para iniciantes não é apenas uma profecia auto-realizada – de tanto a gente falar acabou virando verdade?

        Como comentei no post, pouco usei Ubuntu. Usei muitas outras distros, e todas elas são boas para o usuário. A principal interface do usuário são os ambientes desktop, e tanto o KDE quanto o Gnome, LXDE, LXQt, XFCE, são muito bons desde muito tempo atrás. Inclusive essa é outra profecia auto-realizada do Ubuntu – que os ambientes desktop só ficaram bons após o Ubuntu (ou o Unity) aparecer. O meu Kurumin lá de 2006 já tinha um excelente KDE 3. =)

        Sobre o PPA específico pro blob, achei uma excelente ideia asm. Reduz a quantidade de software proprietário na máquina, é pedagógico, e não pune o usuário.

        1. Pode ser Filipe. Mas, usando minha experiência como base, quem me apresentou o Linux, me mostrou o Ubuntu. Então, naquele momento, sem qualquer conhecimento sobre o universo do software livre, ele era o melhor! =/

          Mas concordo que existam outras MUITO melhores. 🙂

        2. Bom ponto Felipe. E tendo a concordar contigo.

          Minha experiência pessoal.
          Lembro que até pouco depois de 2010 eu era um usuário Debian, iniciado no Kurumin, que resistia a usar Ubuntu. Até que um dia que meu Debian quebrou, num momento em que estava precisando do computador com uma certa urgência, e a única mídia disponível que tinha era um daqueles Live CD’s do Ubuntu. Instalei como uma solução temporária, fui me acomodando com a facilidade de achar resultador nas buscas, e talvez a propaganda de que é fácil, e assim ficou por mais de 2 anos. Nunca me interessei por engajar na comunidade Ubuntu.

          Depois desse tempo, sai da inércia e troquei por Trisquel, mais ainda precisei usar o pacote linux-firmware de um PPA qualquer da vida, e o kernel Linux Tux-On-Ice pra aproveitar um adaptador usb pra wifi. Desses consegui me livar esse mês. \o/
          Ainda me restam os plugins não-livres do flash e do google hangouts. =/

  4. A única distribuição até hoje em que eu pude rodar todos os arquivos de mídia sem problema nenhum é o Ubuntu, se ele tivesse por padrão a interface Cinnamon, eu colocava ele no pc e de lá ele não sai mais. Recentemente eu instalei o Mageia, acho que a última versão, não tenho certeza (vou dar uma olhada depois), e ele não roda .wmv, não tem som nos .mpg nem .flv. Pede pra instalar um tal de Demultiplexador Advanced, mas nem na central de programas nem no Google tem nada referente. Por falar em instalar, não dá pra instalar nada pela central de programas do Mageia, ele lista varias folhas de dependencias que precisariam ser atualizadas, mas quando em clico ele abre um aviso: “por favor, coloque a mídia codé” Quer dizer que eu baixei uma iso de quase 5gigas e ainda precisaria ter mais um DVD extra para instalar plugins?? Clico em OK e o aviso vai e reaparece até travar o pc. É pegadinha do malandro? Aposto que o desenvolvedor da distro está se matando de rir de mais um otário que perdeu seu tempo baixando e instalando, porque a interface é muito bonita e a praticidade no manuseio é grande (cinnamon), monta automaticamente as partiçãoes ntfs e tudo. Mas como pode não poder isntalar nada nem rodar arquivos de midia? Tive o mesmo problema no Linux Mint, só que o mesmo só aparecia depois de uma semana de uso, logo instalado e até no live dvd ele roda .wmv, .mpg, .flv nomalmente, passou uma semana começa a dar esses problemas. O Manjaro linux eu clico em isntalar ele não obedece, nem no live dvd nem no pendrive bootavel. Ele simplesmente não instala e não dá aviso nenhum! O que me impede de usar o Ubuntu é só as interfaces detestáveis do Unity e do Gnome 3, se fosse Cinnamon…
    Idéias para melhorar o linux em geral: deveria ter um arquivo de instalação tipo .exe do Windows, em que tu dá dois cliques ele SEMPRE instala tudo, qualquer versão de qualquer aplicativo em qualquer versão do Windows. Passa 5, 10, 15 anos e o mesmo arquivo está lá, é só clicar e ele instala. Não precisa nem estar na internet. Não é uma maravilha? Um arquivo ponto qualquer coisa que dando dois cliques ele coloca o programa em qualquer linux que seja, antigo ou novo. Na minha opinião dependência e liberdade são palavras antagônicas, enquanto termos como ‘problema de dependencia’, ‘dependencias inválidas’, e coisas do tipo continuarem aparecendo na tela, não tem liberdade nenhuma.

    1. Opa, vamos por partes. =)

      1. Recomendo você ir no http://www.mageiadobrasil.com.br/forum pra pegar suporte pro Mageia. O pessoal lá é muito atencioso (eu tô lá) =D

      2. A maioria das distros não entrega codecs porque para alguns países é necessário pagar royalties para poder fazer isso. Se o Ubuntu faz, ele deve pagar os detentores das patentes em diversos países ou encontraram uma outra forma para fazê-lo.

      Mas de qualquer forma esses codecs são software livre e podem ser baixados após instalação da distro. No caso do Mageia os pacotes são o task-codec-audio e task-codec-video (veja esse tópico no fórum http://mageiadobrasil.com.br/forum/viewtopic.php?f=22&t=750&p=4438&hilit=codec#p4438).

      3. É fazer confusão falar em dependência e liberdade da forma como o amigo fez. Essas palavras são usadas em contextos onde não há qualquer relação entre uma e outra.

      Dito isto, existem algumas distros que utilizam pacotes autossuficientes que carregam todas (ou boa parte) das dependências juntas. Caso queira experimentar, sugiro o amigo dar uma olhada no Gobolinux (que inclusive é brasileira) ou no PC-BSD, que é BSD.

      Gobolinux – http://www.gobolinux.org/
      PC-BSD – http://www.pcbsd.org/

      1. 1.Eu to pensando em ir, mas acho que vou desistir do Mageia, nossa, muito ruim esse sistema, recem liguei ele travou na tela de login, eu tive que resetar pra poder entrar aqui. Tá travando muito (meu Cpu é amd Fx6, placa mãe asus, 8 giga de ram). O mageia que instalei foi a versão mais recente que eu achei vasculhando a internet, versão 4.1 Ele atualmente está me fazendo de bobo, pede para atualizar o sistema, mas quando eu clico diz que não pode, e manda inserir o “core release”
        2.Nesse caso deveria ter uma advertencia ANTES de alguém baixar a distro, dizendo que não possui os codecs para arquivos de mídia.
        3.Eu já tentei o Pc-bsd, e não deu, não consegui de geito nenhum colocar teclado abnt2, e eu preciso do mesmo. O gobolinux não conheço, vou esperimentar. Mas se um software depende de tanta coisa para funcionar, do que ele é livre?

        1. 1. Acho que você não está com as mídias instaladas. Veja aqui como instalá-las http://mageiadobrasil.com.br/wiki/doku.php?id=mageia:midias para mais auxílios recomendo entrar no fórum Mageia do Brasil.

          2. Isso e outras informações aparecem na primeira vez que você usa a distro, uma aplicação chamada MageiaWelcome.

          3. Software livre é todo software cujo código fonte está disponível sob uma licença livre: você tem acesso ao próprio código do software. Dependência são as bibliotecas que determinado software precisa para funcionar. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Paulo.

  5. Dois comentários:

    1) Há de se distinguir entre drivers proprietários e “firmwares” proprietários. O Debian não distribui nenhum dos dois na seção main. Já na seção non-free, é possível encontrar alguns “firmwares”. Não acredito que existam drivers proprietários mesmo na seção non-free, a distribuição desses em forma binária pode constituir violação da GPLv2 (IANAL, TINLA).

    2) Apesar da Canonical distribuir vários dos projetos feitos em casa sob [AL ]GPLv[23], muitos desses projetos exigem CLA, que acaba reduzindo a relação isonômica entre Canonical e demais contribuidores. Sem uma comunidade ativa e independente de contribuidores, o projeto fica exclusivamente na mão da empresa.

    1. Fala Cascardo!

      1) Usei firmware e drivers como sinônimos no texto. Apesar de haver diferenças, pro propósito do texto está ok usar como sinônimo. De fato o Debian não distribui os firmwares não livres no main, mas ele mantém no non-free e isso é suficiente pra FSF não recomendar a distro. No Mageia também é assim – os firmwares não livres estão no nonfree.

      2) Mas veja que até isso não é algo contrário ao software livre. Várias comunidades/grupos fazem isso, vai de cada um imaginar se vale a pena ou não assinar uma CLA, se você confia na comunidade, etc. E cabe ressaltar que a CLA não evita o fork de um projeto. Se algum dia a Canonical resolve fechar o código do Unity, se tiver alguém interessado ainda será possível fazer um fork a partir do código que era disponibilizado sob uma licença livre e seguir com o projeto.

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  7. Olá Filipe, tudo bom?

    Parabéns pelo texto. Você trouxe uma abordagem muito interessante para este acontecimento ubuntu x flisol x “comunidade”[1]. Concordo, e muito, com você quando é trazida uma certa ingenuidade e, até mesmo, algumas incoerências quanto o levantamento do problema por parte da comunidade (aquela que reivindicou).

    Mas eu penso também que esta ação, por mais ingênua, simples ou radical (voltarei a falar de radical), tem sim um certo valor no que concerne a um suspiro (mesmo que pequeno) de que a tal comunidade está abrindo os olhos para certas posturas dentro do que chamam movimento do software livre. Principalmente com todo este escândalo de vigilantismo em massa, Snowden, NSA, etc.

    Este holofote virado para a canonical serve sim, a meu ver, como uma punição por ter colocado um spyware no seu sistema. Concordo com você de que o usuário não deveria ser punido (nunca). Mas é preciso, de alguma forma, cutucar os usuários experientes[2].

    Retomo aqui sobre “radical” e penso que algumas atitudes têm que ser mais enérgicas como a postura do FLISOL. Mas isso tudo sem, em hipótese alguma, ser jogado na cabeça do usuário – principalmente do usuário que está iniciando seu caminho com software livre. Acho que cabe aos usuários experientes fomentar um debate sobre o tema e construir possibilidades. Claro, concordando contigo novamente, tendo a noção – honesta – de que seus sistemas, também, possuem “falhas” quando se é tocado temas como blobs, firmwares, etc. Não acredito numa máxima coerência mas acredito num olhar mais para si, mais construtivo, de ir errando, acertando, produzindo…

    Informo que a canonical, aqui em Recife, aliada com algumas empresas, não apenas vira as costas para a comunidade/movimento do software livre (não ligo para isso) mas também atrapalha! Chegaram a colocar o FLISOL dentro do lançamento do ubuntu (para mim deveria ser o contrário) e também fizeram isso aqui[3].

    Bom Filipe, fico por aqui e mais uma vez parabéns pelo texto.

    Abraços

    [1] Pus comunidade entre aspas pois acredito que o anseio que foi reivindicado é de uma comunidade e não da comunidade (totalizando).

    [2] Chamando aqui usuários experientes aqueles que tem um tempo de caminhada bem maior, conhecimento técnico e sociopolítico do software livre.

    [3] “Fui procurado por um amigo envolvido com SL (software livre), que estuda numa faculdade particular. Ele me falou sobre o planejamento de organizar um evento de SL em sua faculdade. Dei uma força e me dispus a ajudar no que fosse preciso, dentro de minhas limitações. O evento iria ocorrer, estava tudo certo junto à coordenação da faculdade. Já tinham datas certas, eu ia palestrar. A bronca que ocorreu foi que uma empresa queria fazer um lançamento oficial do ubuntu. Esse lançamento iria ocorrer no mesmo dia do evento de SL. Sem muito diálogo a coordenação da faculdade vetou o evento de SL, dando preferência ao lançamento do ubuntu.” Ocorrido em janeiro de 2012.

  8. Olá Filipe,
    Parabéns pelo texto e obrigado por essa reflexão tão bem feita, objetiva, com bom senso e raciocinio claro, sobre esse tema tão delicado e emocionante (e ao mesmo tempo complexo) para o sofware livre.
    Macxi

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  10. Ótimo texto!
    Essa questão dos blobs é complicada, mas ao usuário final é pouco importante, não?
    O usuário final é o cara que finalmente resolveu migrar para o Linux. Isso já é grande.
    O Ubuntu, mesmo que seja de uma grande empresa, ainda é o carro-chefe do Linux.
    Também penso nas distribuições Ubuntu-Like… Como o Mint.
    Poxa, o quão sensacional é instalar o seu SO e não ter que fazer NADA?
    O cara que finalmente veio pro Linux não quer distribuições complicadas. Complicadas ‘naquelas’, né?
    Acho que o cara iniciante não tem interesse no openSUSE, Debian, Arch, Slackware. O cara vê o terminal já pira. Quando falam até o sudo apt-get e seus derivados… Nossa, CADÊ MEU INSTALADOR .EXE?
    Às vezes acho que o Stallman e seus amigos soam um pouco radicais demais. Eu acho sensacional que distrubuições independentes sejam lançadas e que existam. Porém, quando falamos de suporte… Puxa, é outra história.
    O que o camarada que fez o texto disse é interessantíssimo: é melhor instalar os blobs e ter o hardware funcionando ou ficar sem poder utilizar esse hardware?
    Pra mim isso é utopia! Claro que não é impossível, mas está longe…

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