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Saindo do armário – Eleições 2014

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Por uma série de compromissos e necessidades estarei em Teresina no final de semana das eleições, e decidi que pela primeira vez não anularei meu voto. Votarei em Dilma.

O período FHC não foi dos melhores para minha família (e não preciso da propaganda do PT pra me lembrar disso), portanto um candidato que recupera muitos dos personagens e propostas daquele período não teria meu apoio. Além disso, o que também me fez decidir por não anular foi a possibilidade de exercer um voto contra o Tea Party brasileiro, que passou a gravitar em torno de Aécio. Dos defensores da ditadura militar aos cardeais da homofobia, daqueles que se acham superiores sabe-se lá porque, os esquizofrênicos que bradam que não há liberdade de expressão no Brasil, passando por aqueles que veem AK-47 sob os jalecos dos médicos cubanos, pelos que não enxergam a importância do bolsa família, e os contrários a direitos trabalhistas fundamentais em qualquer país civilizado. Os xenófobos, os anti-nordestinos. Meu voto em Dilma é constituído em boa parte como um voto contra esse grupo e o tipo de política que eles poderão engendrar.

O apoio a Dilma, contudo, não significa adesão. Mesmo aceitando que nada no mundo é 100% satisfatório, pautas muito caras a mim não foram devidamente aprofundadas pelo governo: por exemplo, o MinC nunca teve a altura da época de Lula com Gil&Juca, ao contrário tivemos Ana de Hollanda um bom tempo por lá desconstruindo tudo o que fora feito. O software livre perdeu destaque, relegado há núcleos de resistência dentro da burocracia, mesmo com as revelações de Snowden. O investimento pesado nas ciências exatas, explicado pelo déficit de profissionais no Brasil, não deveria significar pouco investimento nas humanas – precisamos incluir as humanidades no Ciência sem Fronteiras. O retrocesso nas políticas pró-direitos femininos e homoafetivos foram de envergonhar.

Essas foram apenas algumas das reclamações, mas há também elogios. O investimento em educação é essencial, e esse governo está fazendo bem. Os diversos programas de distribuição de renda e redução de desigualdades, o bolsa família, seguro safra, a valorização salarial, a política de cotas, são importantes. O aumento da quantidade e do valor das bolsas na pós-graduação, idem.

Essa última, inclusive, foi a que me proporcionou sair de Teresina e fazer meu mestrado na USP. Foi por causa dela que pude me sustentar fora, alugar uma kitnet, comprar livros, me alimentar, e poder dedicar meu tempo aos estudos e à pesquisa (e ao software livre também). A possibilidade de me manter fora de Teresina era algo que minha família nunca conseguiria fazer por mim, e ter a oportunidade de me sustentar a partir do meu estudo foi (e é!) de grande importância. Espero retribuir um dia.

Finalizando:

Aos amigos que votam em Aécio: diria para ponderarem uma vez mais e verificarem se os objetivos do candidato convergem com os seus e com aquilo que mais lhe apetece. Caso venha a votar no candidato, sem problemas, isso é a democracia. Só pediria que o amigo não endossasse o discurso do Tea Party brasileiro. Há muito o que discutir e avançar na ainda jovem democracia brasileira, e com certeza trazer para o espaço público aquelas falas e ideias tão esquizofrênicas e delirantes só adiciona ruído, apagando de vista as pautas que realmente interessam.

Aos amigos que votam em Dilma: vale lembrar q a eleição é um momento importante porém muito pequeno quando comparado com a construção da política, um processo que ocorre todo dia. O governo eleito terá quatro anos pela frente, e é nesse período que  ele precisará de apoio (e da crítica também!) da sociedade civil para avançar seus projetos – algo bastante complicado para boa parte das pautas que temos proximidade quando defrontada com o congresso que foi eleito.

Aos amigos que votam nulo (que dificilmente votariam em Aécio): pediria que deem uma pensada se realmente não há qualquer diferença entre os projetos propostos que não os façam votar em Dilma. Mas, novamente, isso é democracia e cada um faz do voto o que quiser. Votando ou não, espero como sempre estarmos juntos no debate nacional e na sociedade civil, para mim o espaço mais propício para a construção política do dia-a-dia onde um anarquista não deveria se furtar de participar.

E que Bakunin me perdoe.

5 comentários em “Saindo do armário – Eleições 2014”

    1. Do resultado, claro que sim. Mas infelizmente, no governo, ela titubeou demais para fazer um ajuste fiscal que fosse distribuído por toda a sociedade. O que nos restou foi o governo Temer implementando um ajuste mais radical até mesmo que aquele proposto pelo PSDB…

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