Um almoço num restaurante de supermercado. A comida, nordestinamente saborosa e pesada. O calor, um presente sem recusa que só Teresina é capaz de oferecer com tamanho entusiasmo.
Esse era o nosso programa de pai e filho naquele meio dia.
Na fila do caixa, algumas pessoas à nossa frente, uma jovem loira se destacava, conversando alegremente com um rapaz. Aproximei-me.
— Oi, mas quanto tempo heim? Como você está?
— Oi! Nossa, faz tempo mesmo. Eu estou bem. O que você anda fazendo?
— Saí da cidade faz alguns anos. Estou passando as férias por aqui.
— Ah, deixe te apresentar. Este é o meu marido.
— Você casou?
E seguiu-se a despretensiosa conversa de quem não tem muito o que conversar.
* * *
Encaminhando-nos ao estacionamento no subsolo, seguia, meu pai e eu, dividindo a silenciosa companhia masculina. Estamos juntos e estamos felizes na presença um do outro, mas não trocamos qualquer palavra enquanto andamos. Resquícios de nossos ancestrais caçadores, imagino.
Fechadas as portas do carro, me exponho:
— Sabe pai, estou nessa fase da vida em que meus amigos, meus conhecidos, estão todos assim, casando, tendo filhos. Essa fase de quem vai se aproximando dos trinta. Estou navegando, caminhando nos corredores das redes sociais, e pulam notificações do tipo “fulano ficou noivo”. Uma vez, assim que entrei na internet, me chegaram quatro notificações de noivado ou casamento, ao mesmo tempo. Quando não, são as fotos de bebês ou recém-nascidos… estou nessa.
— Filho, também estou numa fase curiosa. Assim que entrei no exército, haviam os militares mais velhos, que eram nossos superiores e supervisores na época. Hoje, as vezes estou andando na rua, resolvendo alguma coisa, e encontro um colega que foi recruta comigo.
“E aí Saraiva, você lembra daquele sargento lá do quartel que era tal coisa quando entramos no exército?”
“Sim, lembro sim.”
“Então, pois ele morreu semanas atrás.”
E sorriu para mim.
— Pois é meu filho; estou nessa fase.