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Haverá futuro para o Diaspora?

Diaspora é aquela rede social que foi financiada via crowdfunding no Kickstarter e fez muito barulho na imprensa do mundo todo por conta do discurso que seus criadores utilizavam: “Diaspora será o Facebook killer”. Mas isso foi em 2010.

Perambulo pelo Diaspora desde a versão de testes, lançada em 2011. Na época você tinha que conseguir um convite para ter uma conta na instância (também chamada de pod) mantida pelo time de desenvolvedores, o joindiaspora. De lá para cá pouca coisa mudou quando falamos em funcionalidades – o que contrasta bastante com as grandes mudanças que ocorreram no gerenciamento do projeto, onde hoje os quatro programadores que recorreram ao crowdfunding para levantar a grana que pagaria o desenvolvimento já não trabalham mais com a plataforma, “doada para a comunidade” há um ano e meio, e que agora depende exclusivamente desta para avançar.

Antes de começar o artigo de fato, quero dizer aos amigos que não me tomem como pessimista ou alguém do gênero – ou pior, como alguém que não acredita que comunidades podem criar e gerir bons projetos de software livre. Eu participo ativamente como desenvolvedor em pelo menos dois projetos comunitários (a saber, KDE e Mageia) e sei que, sim, é possível termos bons projetos baseados em comunidades. Mas o que acompanho do Diaspora, em termos de desenvolvimento, não me deixa muito animado. Por outro lado, talvez os brasileiros que nos últimos meses lotaram o Diaspora possam dar sua contribuição para não deixar a plataforma morrer.

De qualquer forma, caso o Diaspora não decole, ainda temos muitos bons projetos de redes sociais descentralizadas, federadas, em software livre, para podermos migrar.

Diaspora – funcionalidades

Para um projeto que se propôs a desbancar o Facebook, faltam muitas funcionalidades no Diaspora. Basicamente você tem o stream (a sua timeline) com as pessoas que você segue. Você também pode seguir tags – a rede social permite a inclusão delas nos posts. E quando você adiciona alguém, a pessoa adicionada não o segue automaticamente de volta. Sempre que adicionar alguém você colocará o contato em um ou mais aspects – conceito criado aqui, depois copiado como Listas no Facebook ou o Círculos no Google+. Os posts podem ser escritos usando a linguagem de marcação Markdown – não há um editor WYSIWYG para usá-la.

Olhando bem para esse conjunto de funcionalidades, o Diaspora lembra muito mais o Twitter do que o Facebook, porém sem a limitação de caracteres do primeiro.

A partir das funcionalidades presentes, podemos listar as funcionalidades que mais fazem falta no projeto: não há suporte a grupos; não há chat; não há uma API que permita o desenvolvimento de clientes ou outras aplicações que utilizem o Diaspora; as tags não são federadas – portanto você só verá as tags dos perfis que estão no mesmo pod que você; entre outras.

Caramba, não há uma funcionalidade para importar um perfil em outro pod! Ou seja, você tem uma rede descentralizada, mas o seu perfil está amarrado ao pod no qual você o criou até o fim daquele pod. Você conseguirá exportar seu perfil, mas servirá apenas como backup em algum canto perdido do seu HD.

É um tanto decepcionante constatar isso, em especial quando você sabe que em outras redes sociais livres essas funcionalidades estão presentes, ou quando você conhece a história de um famoso fork do Diaspora chamado Diasp0raca.

Esse fork era mantido por um desenvolvedor chamado Pistos. Nenhuma de suas contribuições de funcionalidades foram aceitas pelos desenvolvedores do projeto original, mas Pistos mantinha-as em seu fork e também gerenciava um pod que rodava o seu código – que ficava em http://diasp0ra.ca/. Com o tempo, devido à presença dessas funcionalidades, outros pods adotaram o código de Pistos.

Para resumir, o Diasp0raca tinha grupos, chat, possibilidade de importar os contatos de um perfil, CSS customizável, preview de posts, entre outras funcionalidades. Inclusive ele estava trabalhando em uma API! Tudo isso já funcionava no início de 2012. Mais de dois anos depois, e a única dessas funcionalidades disponível no Diaspora é… o preview de posts.

Pistos acabou rompendo relações com o Diaspora após o anúncio de que os desenvolvedores desta fariam uma profunda alteração no protocolo de comunicação, o que cortaria a comunicação entre diversos pods e outras redes sociais que conseguiam se comunicar com a rede Diaspora (por exemplo, o Friendica), sem qualquer discussão com os desenvolvedores interessados e sem disponibilização de documentação. O hacker chutou o balde e lançou um novo projeto de redes sociais distribuídas, o LiberTree.

Diaspora – gerenciamento do projeto

Como já comentado, o Diaspora começou como o projeto de um pequeno grupo de desenvolvedores – quatro caras. Apesar do desenvolvimento ser livre e colaborativo, o gerenciamento do projeto era bastante centralizado nesse time, e poucas funcionalidades criadas por desenvolvedores externos foram absorvidas pelo projeto.

A impressão que fica é que eles tentaram criar um modelo de negócios no estilo do WordPress, mas não tiveram êxito. Relatório de dívidas quanto à manutenção do pod público (o joindiaspora), a falta de um plano de negócios para captar recursos, a criação de um novo projeto baseado na criação de memes (!!!), e o triste suicídio de Ilya, um dos fundadores, acabaram levando o grupo à decisão de desistirem do projeto e a tomarem a típica atitude de uma empresa que não está mais interessada em investir em um software livre antes desenvolvido por ela: “doaram o projeto para a comunidade”. Era agosto de 2012.

Desde então o Diaspora tem sido gerenciado por um grupo de desenvolvedores reunidos sob a Diaspora Foundation. Seus principais canais de discussão sobre o desenvolvimento da ferramenta são o grupo de e-mails, a wiki, a ferramenta de deliberação loomio, e o repositório do código hospedado no github.

O que sinto ao visitar esses lugares é um projeto ainda perdido, com pouco gás, sem aqueles desenvolvedores que se metem a criar grandes funcionalidades, que dedicam seu tempo a fazer o projeto caminhar de verdade. Claro que o pessoal está trabalhando, e o trabalho deles deve ser agradecido – mas a maior parte são ainda em pequenos detalhes, coisas pontuais diante das necessidades da rede.

Olhe por exemplo a lista de e-mails de desenvolvimento: você pode rolá-la e não verá nada de discussão sobre qualquer funcionalidade que aponte maneiras de implementá-la. Apenas diálogos sobre algo que precisa ser feito, ou propostas de implementações de funcionalidades pequenas.

No loomio também é assim. Há importantes tópicos abertos, mas que tiveram início há muito tempo – vários meses e alguns com quase um ano de idade. Há discussão no período imediato à abertura do tópico, depois ele esfria. Passam-se meses, depois volta um pouco de diálogo, apenas para morrer em seguida.

Enquanto escrevia esse post aconteceu algo que ilustra bem essa situação: compartilhei um merge request no github com código para prover acesso à aplicações de terceiros para o Diaspora – ou seja, boa parte de uma API. O Diaspora precisa disso para facilitar que seus usuários gerem e direcionem conteúdo para a rede. Há um serviço, o PaperBod, que direciona para o Diaspora o stream de sua conta do Twitter, Facebook, ou mesmo um feed RSS. O que ele precisa para funcionar? O seu login e a sua senha! Que dizer de uma rede social cujo discurso é baseado em maior privacidade e controle dos dados pelo usuário, onde você entrega o login e senha do seu perfil para uma aplicação?

Enfim, voltando à API, o desenvolvedor abriu o pedido de merge 5 meses atrás. O código foi dado como terminado por outro desenvolvedor há um mês, seguido de um pedido de revisão. Desde então, não houveram quaisquer manifestações – o código está lá, “flutuando”.

O Diaspora tem pela frente grandes desafios se ele quiser manter-se relevante. Há a necessidade da definição de um protocolo de comunicação que possibilite as diversas funcionalidades esperadas pela rede. Há discussões sobre o uso de protocolos já existentes, como o tent.io, zot2, ou pumpio, por exemplo, mas são discussões antigas, que não definiram a direção que o desenvolvimento deve tomar e que não produziram resultado até o momento.

Por conta dessas indefinições, eu tendo a ver os desenvolvedores do Diaspora como programadores que querem sim ter uma rede social distribuída funcionando, mas que eles não dão a ela uma importância central para o contexto das redes sociais hoje, mais ou menos como os históricos desenvolvedores de software livre encaravam suas aplicações como substitutas para os softwares proprietários que eram comumente utilizados, principalmente no início da história do movimento software livre. Essa atitude true é mais presente, penso eu, nos desenvolvedores do Friendica/Red – basta citar que os desenvolvedores do core dessas redes não tem conta em nenhuma outra rede social. Para eles, o Friendica/Red não é um “acessório”, algo que eles usam em paralelo com as redes centralizadas. Eles são obcecados com privacidade, segurança de dados – o software deles tem que funcionar porque eles não tem alternativa, não estão dispostos a utilizar uma rede social proprietária, centralizada, que terá acesso aos dados deles e de quem eles levarem para lá.

Haverá futuro para o Diaspora?

Apesar do post em sua maior parte apresentar uma visão negativa do Diaspora, essa rede social conseguiu algo que nenhuma outra rede social descentralizada conseguiu – ela tem muitos usuários. Certamente devido ao grande barulho e propaganda que uma rede autodenominada anti-Facebook conseguiu na mídia, mas também por pessoas dedicadas que subiram servidores, colocaram o projeto debaixo do braço, e foram fazer palestras/montar stands/dar entrevistas/participar de reportagens e todo o mais do bom trabalho de promoção que todo ativista de software livre, quando se encanta por determinado projeto, se propõe a fazer.

E sabemos que o que atrai usuários para uma rede social é a presença de outros usuários – que geram conteúdo e atrai atenção para a rede, resultando em mais conteúdo que atrairá a atenção de mais usuários que irão gerar mais conteúdo… e por aí segue.

Existem redes sociais hoje que entregam as funcionalidades mais desejadas que não existem no Diaspora. O Friendica é uma delas, que utilizei por quase um ano, e era ótimo como tudo funcionava bem. Mas acabei saindo porque só me relacionava com outras 2 pessoas. Enquanto isso continuo no Diaspora, mesmo tendo consciência de todo o cenário que descrevi aqui – querendo ou não, lá ainda existe alguma interação.

No final de 2013 um pod brasileiro, o DiasporaBR, foi lançado e enquanto escrevo essa frase ele conta com 6475 usuários. É muita gente. 1% disso dá 64.75 pessoas, com certeza um número muito maior que os atuais desenvolvedores do Diaspora. Se 0.1% desses usuários se tornarem desenvolvedores (6 pessoas e meia =D), com certeza será uma boa arrancada para a rede social.

O que fica para nós, ativistas do software livre, é uma encruzilhada complicada. O Diaspora tem mais usuários, mas se ele não avançar e prover novas funcionalidades, esses perfis serão apenas números sem pessoas por trás. Mas a alternativa de migrar todo esse contingente para uma rede social que funciona hoje, é uma alternativa viável? Se sim, quem está disposto a bancá-la – na forma de disponibilizar servidores e mão de obra técnica?

7 comentários em “Haverá futuro para o Diaspora?”

  1. Olá Filipe.
    Estou escrevendo para te parabenizar pelo ótimo nível de detalhamento utilizado para contar a história de Diaspora*, e sobre o estado atual de desenvolvimento do Projeto Diaspora*

    Vejo que certamente ainda há muito a ser feito, e concordo que há alguns ajustes e algumas prioridades a serem levadas mais a sério.

    Em minha opinião precisamos urgentemente das seguintes facilidades que você citou:
    – grupos
    – chat
    – API
    – federação de tags
    – ferramenta de migração de perfil entre pods

    Existe uma discussão aberta no Loomio para cada uma das ‘issues’, e abaixo copio o link referente ao desenvolvimento do chat:
    https://www.loomio.org/d/0czigqsM/implement-realtime-chat-possibly-using-xmpp?page=7

    Apenas com o objetivo de esclarecer em relação a outras funcionalidades, gostaria de dizer que:
    – já existe a opção de seguir automaticamente as pessoas que te adicionam
    (clique em seu nome de usuário, Configurações, Configurações de Seguimento, Seguir automaticamente quem me seguir);
    – pelo que me consta, a opção em se utilizar Markdown e não ter editor WYSIWYG foi uma decisão tomada pela própria comunidade, através da ferramenta de governança Loomio. Mas as decisões não são definitivas, podem ser alteradas ou melhoradas, bastando para isso sugerir no Loomio, e qualquer pessoa pode sugerir ou levar novas idéias;

    Quanto à doação do projeto para a comunidade, vejo como um ponto positivo. Hoje qualquer pessoa, desenvolvedor, tradutor, ou alguém sem nenhuma dessas qualificações pode ajudar o projeto de alguma maneira. A participação comunitária é a base para uma ferramenta verdadeiramente democrática. Veja exemplos como Mozzila, Debian, KDE, etc..

    Como administrador e mantenedor do segundo pod brasileiro (Diaspora* Brazil – pod Brasil), e do segundo pod mundial na língua portuguesa do Brasil (Diaspora* Brazil – pod Europa, em desativação), vejo como obstáculo para algumas pessoas o idioma inglês como padrão de comunicação, na ferramenta de governança e nos canais IRC. Mas se houver mais brasileiros/portugueses no projeto, pode-se formar frentes de trabalho simultâneas e no idioma português-br. Já são mais de 80 idiomas presentes na rede, então o espaço é de todos nós.
    Como você comentou, também falta mais o ‘vestir a camisa’ de alguns voluntários, mas não podemos deixar de destacar a dedicação constante e diária de vários outros.

    Apesar de todos os desafios, normais em qualquer estágio de desenvolvimento de uma rede social, fico feliz em ver publicações como a sua, que apresentam de maneira objetiva os desafios e conquistas, e servem como um chamado àqueles que de certa forma, queiram se integrar à comunidade Diaspora*, ajudando naquilo que for necessário e dentro de suas capacidades.
    Precisamos de mais pessoas para colocar as mãos na massa. Há ainda muito a ser traduzido, códigos a serem produzidos, e se queremos realmente que Diaspora* tenha um futuro de sucesso como rede social, devemos ter individualmente o compromisso e a dedicação para com ela.

    Diferentemente das redes já maduras que vemos por aí, o conceito de rede livre é outro. Sabe-se que não há uma empresa privada por detrás, com funcionários bem pagos para produzir tudo o que é demandado e em tempo recorde.
    O resultado aqui é fruto do trabalho conjunto, demanda tempo e esfroço, e cada formiguinha tem sua parcela de responsabilidade.

    Por isso aproveito a oportunidade, com a permissão do Filipe, para convidar as pessoas que queiram ajudar no projeto, que se integrem (veja os links publicados acima pelo Filipe) e dêem sua parcela de ajuda.

    Grande abraço a você, aos usuários Diaspora*, e aos parceiros dos demais pods brasileiros.
    Vamos caminhando juntos…

    Vostok
    Pod/site: https://diasporabrazil.org
    Contato: info@diasporabrazil.org
    Servidor do chat: conference.dukgo.com
    Sala do chat: diaspora*brazil

  2. O texto ficou muito bom, muito interessante. Eu ja uso o diaspora desde 2012, e tem varias coisas que eu não sabia!!

    Mas ficou uma duvida, eu sou do diasp.org, quer dizer então que eu só vejo as coisas que desse pod? E estou isolado da comunidade brasileira por causa disso?

    Apesar do diasp ainda ter todas essas limitações, eu acho ele sensacional. Mas infelizmente, ainda preciso manter o facebook. Mas minha ideia é abandar no facebook o quanto antes, e ficar só com o Diasp.

    Uma das coisas que eu mais gosto, é que não tem sensura, você pode postar o que quiser e ja era. no maximo coloca a tag NSFW e pronto.

    1. Oi @Teo. Sobre a dúvida do isolamento, não, você não está isolado de outros pods. A comunicação entre os pods funciona bem – há relatos de erros e mensagens perdidas, mas eu particularmente nunca experimentei isso.

      O que ocorre é a não-federação das tags. Se um perfil de algum pod que ninguém do seu pod segue utilizar uma tag, o post com essa tag não aparecerá no seu pod.

  3. Olá Filipe,

    Uma análise bem detalhada do Diaspora*. Por isso resolvi falar aqui de alternativas. 🙂 Falo isso como usuário de duas mídias sociais que foram criadas na mesma época que a Diaspora*, sem nenhum aporte de capital, idealizadas por uma única pessoa (que nunca teve a menor vaidade em relação a isso e sempre liberou todo o acesso desde o início) e que funcionam muito bem, a ~friendica e a Red#Matrix.

    A ~friendica foi criada primeiro, com o objetivo de ser um espaço pessoal de publicação e compartilhamento. A ideia era usar a lógica da federação em seu extremo, ou seja, cada um ter a sua instância da ~friendica instalada e elas conversando entre si (e com outras mídias sociais). E funciona muito bem assim. Na minha instância da ~friendica eu envio publicações para o Tumblr, o Twitter e para o meu sítio no WordPress e interajo com pessoas da Diaspora*, pump.io e GNUSocial (o antigo StatusNet). E posso receber publicações de qualquer sítio que ofereça feeds RSS ou Atom e até mesmo de e-mails e listas de discussão (nesse caso é possível publicar também, além de receber).

    Já a Red#Matrix, foi criada como uma espécie de evolução da ~friendica, já mais estruturada como mídia social, com seu foco na segurança e na privacidade. Pra isso, toda comunicação entre as instâncias é mediada por um protocolo chamado Zot! Pra entender como o Zot! funciona, imagine um OpenID baseado no seu perfil, uma espécie de single signon que pode funcionar em qualquer outro sítio web que ofereça suporte ao protocolo Zot!. Tudo isso de forma transparente pro usuário. Além disso, a Red#Matrix permite controle fino do que pode ser compartilhado ou não, individualmente com pessoas ou entre grupos. Inclusive, por conta disso, o conceito de “perfil” na Red#Matrix (onde ele é chamado de “canal”) é bem mais rico. Ele pode tanto ser um perfil individual quanto um grupo de usuários, tudo isso com os mais diversos níveis privilégio de interação.

    Nessa mídia é possível criar páginas individuais, álbuns de fotos e até mensagens criptografadas, que só podem ser abertas com a digitação de uma senha. Além disso, é possível clonar perfis em várias instâncias. Dessa forma, se uma instalação da Red#Matrix cair, o seu perfil continua no ar. E TODOS os seus dados são gravados de forma criptografada no banco de dados. Ou seja, ninguém tem acesso a eles. E isso é particularmente interessante porque as pessoas costumam esquecer que mesmo que o administrador do ambiente seja um cara bacana e ético, é comum esses sítios ficarem alojados em VPS ou hospedagens compartilhadas. E a empresa que controla esses ambientes TAMBÉM tem acesso ao que está hospedado lá. Logo, se você está usando redes distribuídas por medo de ser espionado, mas ela está em alguma hospedagem fora do seu controle total e com dados em texto puro no banco de dados, você está fazendo isso errado.

    Por fim, ~friendica e Red#Matrix são escritas em PHP. Pessoalmente eu acho isso vantajoso (apesar de muita gente discordar) especialmente pelo fato de que é razoavelmente simples instalá-las em qualquer hospedagem compartilhada. Isso pode ser uma grande vantagem pra quem quer começar a usar redes distribuídas. Inclusive, porque, como o nome diz, a força dessas redes está justamente no fato de serem distribuídas. Eu, por exemplo, não vejo nenhuma vantagem em um único pod da Diaspora* conter 6475 usuários. Isso porque se esse pod acabar por qualquer motivo, teremos 6475 pessoas perdendo tudo aquilo que publicaram. Seria muito mais interessante essas pessoas estarem espalhadas em vários pods. Por isso eu defendo que as pessoas podem até começar criando um perfil em um desses locais, mas deveriam, assim que possível, começar a manter sua própria infraestrutura digital.

    Mas aí você pergunta, se a ~friendica e a Red#Matrix são tão bacanas assim, por que tão pouca gente usa? Sinceramente, eu também gostaria de saber. Alguns dos argumentos que eu já ouvi foram que elas são “feias” e que não têm clientes para dispositivos móveis. Essas, inclusive, foram sacadas da Diaspora*. Primeiro ela investiu na aparência pra depois trabalhar com funcionalidades (sempre com a promessa de que a funcionalidade X ou Y “seria implementado no futuro”). Eu, particularmente, considero isso ruim. E me espanta que desenvolvedores de software livre usem esse tipo de argumento para preferir a Diaspora*, pois considero muito mais simples dar uma cara bonita para um software bem estruturado do que o contrário. Mas isso sou só eu pensando em um mundo perfeito.

    E o pior é que o Mike MacGirvin, criador da ~friendica e da Red#Matrix, tentou colaborar no desenvolvimento da Diaspora*, apontando diversas falhas e a ausência de documentação, mas não foi muito feliz em sua empreitada (algumas pessoas envolvidas com a Diaspora* dialogaram legal, mas a coisa não vingou). E isso é uma das coisas que me incomoda nesse processo todo. Desde o início a ~friendica (e depois a Red#Matrix) se mostraram tecnicamente superiores à Diaspora* e vários dos seus recursos poderiam ter sido aproveitados (afinal são softwares livres). Mas o pessoal insistiu em manter um desenvolvimento numa linha que até hoje ainda não conseguiu atender a todas as promessas iniciais. Vaidade? Incompetência? Falta de visão? Outro motivo qualquer? Bom, você escolhe a alternativa.

    Claro que eu não quero que a Diaspora* acabe. Ela é um software livre e, como tal, torço pra que dê certo. Inclusive porque defendo a diversidade de opções. Mas acredito que seria muito mais produtivo ela aproveitar ideias que já estão funcionando hoje do que ficar tentando reinventar a roda. O protocolo Zot! é concreto e funciona. Por que não adotá-lo? Por que não torná-lo um padrão de intercomunicações entre as redes federadas ao invés de criar um novo ou usar protocolos que possuem falhas de segurança?

    Por fim fica um apelo público. Entre as pessoas que estão tentando fazer a Diaspora* funcionar plenamente, será que não tem nenhum webdesigner capaz de fazer um tema bacana pra Red#Matrix? Ou um desenvolvedor capaz de fazer um cliente? Dessa forma, pelo menos esses argumentos caem por terra… E isso ajudaria MUITA gente.

    1. E falando nessas falhas apontada por Mike, tem algo muito bizarro :
      “I’ve worked for companies that delivered more than 4 billion emails per day.

      Diaspora gives you one 16 bit number (4B unique numbers) to hold all posts,users,emails,photos, anything.

      These are randomly generated. But there’s nothing to prevent two (or ‘n’ different sites) from creating the same ID for post, users, emails. photos, etc.

      Google “birthday paradox”.

      Even if Diaspora communications were 99.9999999+% reliable (which they aren’t), if a duplicate ID is detected, the message/comment/like/photo/user/profile/whatever is undeliverable.

      As the network grows, the probability of collision of any of these “globally unique identifiers” will reach 100%, and Diaspora will be completely unable to communicate.

      You would think that “a ticking time bomb which will absolutely kill your network dead” would raise eyebrows. But no. Diaspora is just going to completely stop working, and nobody will be able to figure out why. Even though I told them repeatedly.”

      Não precisa ser muito técnico, matemático e super inteligente para entender que se por acaso acontecer uma improvável migração/diaspora do facebook/G+ para a rede Diaspora ai sim que o bicho vai pegar, matematicamente falando não há futuro para essa rede com certeza.

  4. Como um mantenedor de um nó Friendica (2 anos) e Diaspora (3 anos) eu vi (vejo) sérios problemas no backend do Friendica em termos de Banco de Dados, por exemplo.

    Nosso Friendica simplesmente detona nosso Servidor Parrudo (8 Núcleos de 2.4 Ghz e 32 GB de Memória) simplesmente porque a parte do (My)SQL é realmente mal planejada/implementada e menos de 50 usuários conseguiam gerar um volume de dados / processos / consultas do lado do BD que detonava o BD e a máquina inteira (que foi otimizado até as últimas consequências). E não adianta entupi de índices que a melhoria é mínima.

    O suporte à apenas ao MySQL me incomoda(va) muito mesmo, esse BD de merda não é assim tão livre, e suas suposta alternativa MariaDB é do mesmo FDP que vendeu o MySQL para Sun anos atrás (não confio nem fudendo).

    Além de que é um BD de merda mesmo, tecnicamente falando, se comparado ao PostgreSQL por exemplo, um BD muito mais estável e escalável.

    Lá no nosso Pod cometemos o “erro” de colocar MySQL no Diaspora* também, porém hoje temos 100x mais usuários, um tráfico considerável de dados e não representa nem 20-30% da carga do BD (o Friendica come mais de 70% facilmente). Palmas para a Equipe do Diaspora? Não, palmas para o povo do Ruby on Rails que fez um Framework de primeira qualidade e o mantém assim. Interface mais amigável? Palmas para o povo do Bootstrap!

    Uns 80% das coisas boas do Diaspora vieram prontinhas do Ruby on Rails e suas maravilhosas Gems.

    Ainda no Friendica não existe nenhuma implementação para o uso do memcached ou redis-server, o que poderia aliviar o lado do BD. O Smarty é uma engine tosca de template. Poderiam ter adotado um Framework joinha para facilitar o desenvolvimento e garantir que a base evoluísse mais tranquilamente. Um Friendica sobre um Yii, Symphony ou Cake seria muito bom, já que são frameworks sólidos, com bom desempenho e grande base de desenvolvedores.

    No Friendica o código PHP não é lá essas coisas, ótimo que tenha trocentas funcionalidades mas não há muito planejamento/organização nisto. O Friendica foi abandonado em favor do Red pelo Core dos desenvolvedores, uma ou outra atualização anda saindo e a coisa tá degringolando em algumas áreas.

    A UI é e continua sendo horrível, para mim que sou desenvolvedor não faz diferença mas o usuário (esse maldito) quer isso, fazer o que né? Além de feia, a usabilidade é ruim mesmo (confusa), e culpa disto é sim o excesso de “opções”.

    Eu gosto do Friendica, gosto do Diaspora* e vou continuar mantendo meus Pods. Escrevi tutoriais de como instalar ambas as ferramentas, e acredito que o futuro é brilhante para ambas as plataformas.

    1. Fala Marcelo, tenho aqui numa aba uma conversa sobre o peso dessas redes em servidores que tivemos bons meses atrás https://joindiaspora.com/posts/2739936 e você já comentava sobre isso.

      Segundo os próprios desenvolvedores o Friendica tinha sido desenvolvido pra ser não/pouco-escalável mesmo, algo mais “personal”. Aparentemente o Red muda isso.

      Você já chegou a testar o Red nessa parte de servidores? Seria um post massa a “visão sysadmin” dessas redes e seus funcionamentos. 😉

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