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Telemulta

A voz feminina robótica (chegamos no tempo onde questão de gênero e robôs podem se confundir) soou, estranha e familiar como sempre, assim que o carro finalizou a curva para a direita:

“Você entrou na Avenida Universitária; o limite de velocidade é 60 quilômetros por hora”.

Meu pai sorriu e começou a falar:

– Desde que comprei esse carro, essa mulher sabe por todo lugar que ando. Pense! Nem sua mãe é assim.

Esbocei o meu “fum” nasal, que não consegue nem ser um “hum” nem um “rum”, junto com meu sorriso amarelo.

Ele continuou, pensativo. O carro subiu a ponte. Externou:

– Sabe filho, eu fico pensando que esses computadores sabem onde andamos e sabem qual a velocidade da rua… você acha que seria difícil colocar uma conexão nesse computador aqui com o governo?

– Pai, seria a coisa mais simples – falei, no meu monótono tom professoral. Você já tem um dispositivo que se conecta com a internet no seu bolso. Seria só colocar um chip de celular no computador de bordo e pronto, ele estaria conectado com a internet e poderia mandar e receber mensagens de qualquer lugar – inclusive do governo.

– É… sabe, fico pensando, isso vai acontecer com certeza. Daqui um tempo, e como parece que é fácil mesmo, vão obrigar colocar chip em todo carro. Aí pronto, ultrapassou o limite de velocidade a mulher fala “você ultrapassou o limite de velocidade” e manda a mensagem pro Detran. Pronto! Multa sem nem precisar de agente…

Fiquei olhando para ele.

– Daí, tá tarde da noite bebeu demais: “você deve assoprar aqui” e o computador já faz o bafômetro. Deu alto? Multa na hora. Aconteceu uma batida? O carro já manda pro Detran qual era a velocidade, como tava a curva, como era o terreno, que hora era, se o sinal tava aberto ou fechado… pronto, precisa nem de perícia.

– Pois é pai, foda… pior que acho que as coisas vão caminhar para esse rumo mesmo.

– Também acho… logo não vamos ter muita opção de como fazer qualquer coisa.

O velocímetro marcava 70 Km/h.

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