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Homenagem a Dwayne McDuffie

Um dos meus hobbies que cultivo há vários anos (na última contagem, chegou a 19 anos!) é o gosto por quadrinhos. Acho que a primeira revista em quadrinhos que minha mãe comprou para mim foi uma X-Men em 1992. Desde então, com maior ou menor frequência, venho acompanhando esses universos de heróis e seus escritores e artistas que dão vida a tudo isso.

Dwayne McDuffie (1962 – 2011)

Nesse final de fevereiro, mais precisamente no dia 21, uma triste notícia chegou não só para os fãs dessa arte, mas também para os movimentos de afirmação, nos Estados Unidos, das minorias em geral e, em particular, do povo e da cultura negra.

Dwayne McDuffie foi um dos grandes roteiristas americanos de quadrinhos e outras mídias. Em seus primeiros trabalhos, no fim dos anos 80, escreveu roteiros de Damage Control, Capitão Marvel, Mulher-Hulk, Vingadores, Homem de Ferro, Power Pack, algumas histórias da coletânea Hellraiser e editou a revista do Freddy Kreuger para a Marvel.

Já no início dos anos 90, Dwayne escreveu histórias do Homem-Aranha, Deathlok, Double Dragon, Vingadores da Costa Oeste e Marvel Super-Heroes, para a Marvel; para a DC, escreveu The Demon e uma biografia em quadrinhos do Prince. Para outras editoras menores, como Harvey e Archie, escreveu De Volta para o Futuro, Frank, Monsters in my Pocket, e outras.

Além de ter trabalhado com os principais personagens da Marvel, alguns da DC e ter feito trabalhos autorais ou de adaptação, Dwayne toma um atitude que o insere dentro dos movimentos de afirmação das “minorias” citado anteriormente. No ano de 1993, juntamente com Denys Cowan, Michael Davis, Derek Dingle e mais roteiristas e desenhistas negros, latinos e asiáticos, fundaram a empresa Milestone Media, editora de quadrinhos que eram publicados pela DC. Segundo Dwayne:

Se você faz um personagem negro ou uma personagem feminina, ou um asiático, então eles não são apenas aquele personagem. Eles representam a raça ou o sexo, e não pode ser interessante, porque tudo o que eles fazem tem de representar um bloco inteiro de pessoas. Você sabe, o Superman não representa todas as pessoas brancas; nem o Lex Luthor. Sabíamos que tínhamos de apresentar uma série de personagens dentro de cada grupo étnico, o que significa que nós não poderíamos fazer apenas um livro. Tivemos que fazer uma série de livros e tivemos de apresentar uma visão do mundo que é mais ampla do que o mundo já vimos antes.

A editora lançou vários personagens antológicos, como os negros Hardware e Icon; o asiático Xombi; os grupos Shadow Cabinet e Blood Syndicate, entre vários outros, a maioria situada na cidade ficcional de Dakota, onde se passam as histórias.

Blood Syndicate

Entretanto, o mais famoso certamente é Static – aqui no Brasil conhecido como Super-Choque, que foi popularizado através da excelente série animada de mesmo nome. O sucesso de Static não é um fenômeno que ocorreu apenas no Brasil. Acredita-se que o pano de fundo da história, que lida com um rapaz adolescente cheio de problemas típicos da idade que de repente se vê com poderes e decide combater o crime, é uma das características que cativam o leitor/expectador. Quase como um Homem-Aranha negro.

Static Shock – ou Super-Choque!

A linha vendeu bem no início, mas logo foi descontinuada em 1997, após fracas vendas nos anos de 1995 e 1996.

Enquanto isso, Dwayne havia migrado para a mídia televisiva, como roteirista de What’s News, Scooby Doo? e Liga da Justiça. Dizem que a decisão de utilizar o Lanterna Verde negro John Stewart no lugar de Hal Jordan foi uma briga comprada e encampada pelo roteirista. Com o sucesso da Liga, Dwayne foi tornou-se a produtor da continuação Liga da Justiça – Sem Limites.

Por esta época, já bem afeiçoado no meio, Dwayne conseguiu emplacar a série televisiva do Statuc (ou Super-Choque), que foi bem sucedida e acabou por dar sobrevida ao universo Milestone na primeira década do século e também por trazer o roteirista de volta aos quadrinhos.

Nesta época, ele escreveu a série Beyond! e o Quarteto Fantástico para a Marvel, Firestorm e Liga da Justiça para a DC. Em 2010, Dwayne escreveu sua última obra em quadrinhos, Milestone Forever, que contava o final de vários heróis da editora e preparava terreno para a incorporação deste universo no universo de heróis principal da DC.

Ainda na área de animação, Dwayne produziu e roteirizou do seriado Ben 10 da fez a adaptação de Crise nas Duas Terras. Ele havia acabado de terminar a adaptação de All-Star Superman, a premiada história de Grant Morrinson e Frank Quitely, e estava trabalhando na promoção da mesma quando veio a falecer, após complicações de uma cirurgia cardíaca de emergência.

O legado de Dwayne certamente persistirá. O universo Milestone reafirmou em especial os personagens negros nas HQ’s, lutando contra os estereótipos que sempre rondaram (e ainda rondam) as histórias em quadrinhos americanas. Também a editora Milestone foi responsável por apresentar artistas negros e latinos ao mercado americano, num momento em que até exigências de mudanças de nomes para algo mais “americanizado” eram feitas para eles.

Talvez, uma das homenagens mais bonita para Dwayne McDuffie partiu de uma ilustração de um desenhista da DC. Nela, os heróis clássicos da editora abrem passagem e fazem reverência para os heróis negros da Milestone, que passam com caixão de seu criador. É o cortejo de Dwayne.

Dada a qualidade e diversidade de sua obra, além de seu ativismo, Dwayne McDuffie fará falta nesse mercado hoje tão parco de novidades e conservador que tornou-se os quadrinhos norte-americanos.

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